Minas Gerais

UNIÃO

Combate ao racismo e ao avanço da direita dão o tom do 3º Ègbé, que aconteceu em BH

Evento termina com a proposição de mais pessoas negras e de religiões matriz africana na política

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
evento reuniu diversos povos de terreiro - Natália Andrade/Brasil de Fato MG

A terceira edição do Ègbé, encontro nacional da cultura de povos de matriz africana que teve como tema “Nós somos”, reuniu mais de 500 povos de terreiros em Belo Horizonte, para debater  sobre a luta racial e o racismo religioso. 

Em quatro dias de evento, foram analisados o cenário político do país, realizadas vivências, rodas de conversas e diversas outras atividades, que celebraram a união de povos de religiões de matriz africana do Brasil e do mundo. Estiveram presentes, além de delegações brasileiras, representantes da Angola, de Cuba, dos Estados Unidos e da Venezuela. 

Resistência, retomada e reconstrução

Pai Ricardo de Moura, membro da Reunião Umbandista Mineira (RUM) e diretor do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-brasileira (Cenarab), um dos organizadores do evento, falou sobre a necessidade da união, frente ao avanço de pautas conservadoras nas Casas Legislativas. Para ele, a afrorreligiosidade é política e está inserida em toda a conjuntura que o Brasil enfrenta.  

“Estamos trazendo a ideia de reconstrução do velho mundo dos povos terreiros de matriz africana.  E, quando a gente fala em religião de matriz africana, a palavra que a gente mais escuta é resistência. É força”, enfatiza. 

“A nossa religião é de práticas de vivências, formas de fazer, formas de estar, com quem estar. É a ocupação do território até transformar ele em lugar. Falamos de resistência, mas está na hora de desdobrar. Vamos colocar mais dois ‘R’: resistência, retomada e reconstrução. É uma reconstrução onde a gente tem lugar e corpo”, complementa. 

Defesa da democracia

Nilma Lino, que foi ministra-chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República no governo Dilma (PT), também destacou a importância do evento. 

“É importante e estratégica a realização do 3º Egbé. É importante que povos e comunidades terreiros se reúnam, discutam sobre a política e sobre a nossa democracia que, na minha opinião, está em risco”, disse a ex-ministra. 

“Precisamos construir um projeto de poder político que priorize a democracia e os direitos. O movimento negro é extremamente democrático, porque, quando nós lutamos pelas nossas vidas com direitos e contra o racismo, nós lutamos para democratizar toda a sociedade brasileira”, complementa.  

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Extrema direita é racista

Eloi Ferreira, que foi ministro da Igualdade Racial do segundo governo Lula (PT), destacou a relação entre o avanço da extrema direita e o crescimento dos casos de racismo e perseguição às religiões de matriz africana. 

“A herança mais forte e mais linda que nós temos são as religiões matriz africana e elas enfrentam a ascensão da extrema direita, que tem ódio racial. A extrema direita tem uma pauta racista extrema”, explica. 

Próximos passos 

Entre as resoluções deliberadas no evento, está a ampliação da participação de religiosos de matriz africana nos partidos e nas disputas eleitorais.

“Nós precisamos ingressar mais na política, na perspectiva de ter uma participação nas eleições que se avizinham, sobretudo porque essas eleições são a prévia do que nós teremos em 2026”, disse Eloi Ferreira. 

Edição: Ana Carolina Vasconcelos