O México passa por uma série de violências devido ao aumento da repressão a protestos. Destacam-se o caso dos 43 estudantes desaparecidos, em setembro de 2014, e recentemente a morte de 12 pessoas em uma manifestação em defesa da educação do país. Professores protestavam quando foram surpreendidos por policiais que abriram fogo contra os presentes.
Segundo José Antonio Altamirano, um dos dirigentes da Coordenadoria Nacional de Trabalhadores da Educação (CNTE), a repressão é uma forte marca do governo federal mexicano, gerido por partidos neoliberais. Da CNTE, 14 dirigentes estaduais e nacionais são presos políticos. Mas atualmente são “milhares e milhares de presos”, reforça Altamirano, que também é professor de educação básica no estado de Oaxaca.
Brasil de Fato: Sabemos que o México é um país conhecido como um dos mais neoliberais da América Latina. Qual é, atualmente, a característica mais marcante dessa política?
José Antonio Altamirano: A característica fundamental é a imposição de políticas a sangue e fogo, com base na repressão contra o povo trabalhador. Junto a isso acontece a criminalização dos protestos sociais. No México, os protestos não estão permitidos, na prática. Há um clima fascista, de terror, a quem se opõe a essas políticas neoliberais. A última delas é a chamada reforma educativa.
O que é esta reforma educativa?
É chamada assim, mas não tem absolutamente nada a ver com educação. O objetivo é eliminar e despedir os trabalhadores mediante um exame que o governo diz ser uma política de “evolução docente”. Mas nós discordamos. Esse é um instrumento policial para despedir milhares e milhares de professores. O projeto abre espaços para a entrada da iniciativa privada nas escolas, e isso está acontecendo através de grandes empresas de livros. A única coisa que se sabe é que tende à privatização, e que pretendem eliminar a educação pública, gratuita, laica e obrigatória no México.
Como os professores têm respondido à implantação dessa reforma?
Nós temos enfrentado essa política com resistência organizada e desobediência civil pacífica. Não vamos obedecer a essas leis porque são contrárias aos trabalhadores da educação e contrárias ao povo, e pretende despedir os professores, como já estão fazendo. Mas esta luta já não é unicamente dos professores, é da população. E ela não é nacional, é internacional. Porque os governos neoliberais podem ser encontrados em várias partes do mundo e temos que enfrentá-los de maneira unida.
Os professores mexicanos estão organizando manifestações há muitos meses e, em uma das últimas, sofreram um ataque policial que deixou mortos. Como foi isso?
Em 19 de junho deste ano, a Polícia Federal e a polícia estadual de Oaxaca, um estado do México, chegaram ao local em que estávamos manifestando. Contrários ao protocolo, dispararam na população em geral. Assassinaram 12 pessoas. Um deles era um professor indígena e os demais eram moradores do local. Até este momento contabilizamos mais de 150 feridos. Houve também companheiros presos e outros que desapareceram por alguns dias, mas já estão bem. Essa ação foi um crime de lesa humanidade.
No Brasil, passamos atualmente por ameaças à educação pública. Você vê semelhanças entre a política implantada no México e o projeto que o presidente interino Michel Temer anuncia?
Privatizações. A privatização da educação está se dando em todos os países cujo governo é neoliberal. Eles já se organizaram de acordo de tal maneira que o serviço educativo, ao invés de gerar gastos, vá gerar lucros para os donos do poder. A política neoliberal pretende eliminar os trabalhadores e também as escolas. É precisamente contra isso que estamos lutando.
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