Eu fiz essa música para contar a história de uma travesti e toda a saga da Benedita, que a sociedade queria que fosse Benedito. A gente sofre muito, os nossos direitos são negados, a gente não tem direito a existir. Então, eu trago comigo as companheiras travestis e transexuais que sofrem e todas as que foram assassinadas até hoje”, disse a atriz, bailarina e performer Cristal Lopez, após apresentar a peça “Cristal Benedita”.
O espetáculo compõe a programação da I Semana da Diversidade Sexual e Cidadania LGBT de Minas Gerais, que pretende, por meio de debates e atividades culturais, dar visibilidade às lutas da comunidade LGBT (travestis, transexuais, transgêneros, bissexuais, gays e lésbicas). O evento, que começou no dia 7 de julho, é fruto de uma articulação entre a Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania (Sedpac), o Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual (CELLOS) e movimentos populares, como o coletivo Transcultural.
Integrante do coletivo, a artista plástica e fotógrafa Travartista Bárbara Macedo apresenta a série de desenhos “Desinibida”, mostrando o empoderamento das travestis pelo corpo. “A gente não tem um corpo certo ou errado. A gente tem o nosso corpo e é feliz com ele”, afirma. Ela acredita que o evento, frequentado majoritariamente por pessoas que trabalham na Cidade Administrativa, permitiu expandir as possibilidades de interação. “Como eu alcanço um público muito específico, chegar a essas pessoas é gratificante. Eu gosto de ver a reação delas, independente de ser positiva ou negativa, pois o que importa é provocar alguma coisa”, comenta.
Tabus para pensar
Foi o que aconteceu com a gestora pública Renata Souza. O marido é artista e ela já frequentou várias exposições na Europa, mas experimentou um choque pessoal nas exposições de quadros de Travartista, Moisés Sena e Paulo Bevilacqua. “Pela primeira vez, trouxeram aqui um tema tão cheio de tabus. É algo complexo, que nos leva a sair do padrão, gerando resistências e aberturas ao diferente. A arte tem que ser chocante, ou, então, não é arte”, conclui.
Para a transformista Nickary Aycker, que também se apresentou na semana, o show foi desafiador: “Nos acostumamos com lugares onde a gente já sabe o que está acontecendo. Aqui é outro território”. O encontro com o diferente leva a quebrar as predefinições que reduzem, aprisionam e matam. “Muitas pessoas pensam que travesti é só bagunça. Travesti, como toda pessoa, é amor, é ser humano, é cultura. Fora deste trabalho aqui, eu também trabalho como babá numa casa de família onde me respeitam muito”, conta.
A I Semana termina nesta sexta-feira (15), mas algumas atividades vão além da programação (disponível pelo link: migre.me/ulrNi).
Domingo tem parada
A 19ª Parada do Orgulho LGBT de Belo Horizonte acontece no domingo (17), com concentração a partir das 11 horas, na Praça da Estação. O evento tem previsão para terminar por volta das 20 horas, após percorrer o Centro da capital. O lema deste ano é “Democracia é respeitar identidade de gênero: não nos apaguem com a política”. Entre os objetivos, pretende-se debater as ameaças aos direitos LGBT no cenário atual.
A Parada do Orgulho LGBT de BH começou em 1998 e hoje é uma das maiores manifestações populares de Minas Gerais. No mundo, o marco do surgimento da parada é o dia 28 de junho de 1969. Frequentadoras do bar Stonewall, em Nova York, se rebelaram contra a perseguição policial a bares frequentados pelo público LGBT. Surgia, assim, o dia do orgulho LGBT.
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