Lá se vão 60 anos desde que o sertão mineiro ganhou o mundo pela literatura de João Guimarães Rosa. Publicada em 1956, “Grande Sertão: Veredas” é considerada uma das mais importantes obras literárias já produzidas no Brasil. Com escrita impecável e um grande respeito ao povo brasileiro, o romance consiste em uma longa narrativa, em primeira pessoa, em que o protagonista Riobaldo revive suas pelejas, seus medos, amores e dúvidas. Ele, velho jagunço, trocara sua vida pela tranquilidade da fazenda.
As memórias de Riobaldo, contadas a um jovem doutor que chegara em suas terras, perpassam sua infância, juventude e suas aventuras na jagunçagem, mas, principalmente, sua relação complexa, repleta de sentimentos contraditórios, com o também jagunço Diadorim.
Nessa obra, “o sertão é o mundo” e, especialmente, um mundo cheio de mistérios e crenças que funcionam como pretextos para uma reflexão profunda sobre o ser humano e o seu viver no mundo. Muitos estudiosos dizem que a obra é uma metáfora filosófica sobre a vida, ou melhor, a “travessia”, expressão do autor que pode ser interpretada como a passagem da existência.
Originalidade
A linguagem de Guimarães Rosa constitui um universo novo, uma vez que, além de abusar de recursos linguísticos, ele reinventa a escrita a partir do modo de falar sertanejo. Telma Borges, professora de literatura da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), afirma que o escritor mineiro usa a gramática, mas não a normativa e tradicional.
“Ele desloca os termos da oração e se sente um estranhamento. É interessante como a leitura em voz alta produz uma significação muito mais acelerada. A literatura de Guimarães Rosa tem uma marca de oralidade, que permite a identificação com o sertanejo”, explica Telma.
O autor
João Guimarães Rosa nasceu em 27 de junho de 1908 na cidade de Cordisburgo, na região central de Minas Gerais. Autodidata, começou ainda criança a estudar diversos idiomas. Formou-se em medicina e passou a exercer a profissão no interior mineiro, quando teve seu primeiro encontro com a realidade do sertão. Chegou a assumir funções diplomáticas no exterior, mas nunca abandonou sua paixão pela escrita.
Estreou na literatura em 1929, na revista “O Cruzeiro”. Em maio de 1952, o escritor fez um percurso de 240 quilômetros no sertão mineiro, durante dez dias, conduzindo uma boiada. Durante a viagem, anotou expressões, casos e histórias que ganharam vida em “Grande Sertão: Veredas”.
Após três dias de ter tomado posse na Academia Brasileira de Letras, morreu subitamente seu apartamento no Rio de Janeiro, de infarto, em 19 de novembro de 1967.
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