Entre gritos emocionados de “Brasil de Fato, o povo organizado” foi lançada a primeira edição do jornal Brasil de Fato, de circulação nacional, em 2003, no Fórum Mundial de Porto Alegre. Durante o lançamento do periódico, criado para ser um veículo plural que traduzisse em um só lugar o que queriam os trabalhadores, movimentos populares e a esquerda do país, havia mulheres e homens de diversas cores e ideias, esperançosos com o futuro da mídia brasileira.
Da idealização à realidade foram muitas as dificuldades enfrentadas, mas também muitas as conquistas, como a consolidação de um grande site com pautas produzidas em diversas partes do Brasil e a criação de jornais regionais em Minas Gerais, Paraná, São Paulo, Pernambuco e Rio de Janeiro. No Ceará, já foi lançada uma edição inaugural, chamada de “edição 0”.
Notícias de fato
Segundo João Pedro Stedile, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e integrante do Conselho Editorial do jornal desde a edição zero, o projeto sempre foi visto como uma oportunidade de divulgar as notícias do Brasil “como elas são”, ou seja, “de fato”. Daí o surgimento do nome. Ele avalia que, em 2003, os desafios não eram muito diferentes do que são hoje. “Era difícil conseguir financiamentos que escapassem da publicidade comercial. Sabíamos que as empresas jamais iriam anunciar em um jornal de esquerda e que a equipe não aceitaria propagandas desses locais”, pontua.
Por essas e outras, ao final do primeiro ano, ficou entendido que para funcionar, o veículo precisaria de militância. E é com ela que atua até hoje. “São os problemas estruturais de fazer uma imprensa popular, subordinada apenas aos interesses dos trabalhadores. Devemos nos referenciar na mídia burguesa, a classe operária precisa construir seus próprios meios de comunicação, seja na internet ou demais maneiras”, declara Stedile.
Do papel à internet, com o mesmo compromisso
A velocidade de informações nascida com a internet passou a ser um desafio para a esquerda. Com isso, em 2015 a equipe caminhou para o encerramento da edição impressa nacional e passou a veicular as notícias somente pelo site, mantendo a distribuição dos tabloides regionais. A plataforma sofreu, então, grande remodelação: foi mudado o design, a interatividade, sessões, etc. A página do Facebook foi potencializada e hoje o Brasil de Fato está também no Instagram, Flickr, Telegram, YouTube e WhatsApp.
“A gente entendeu que precisava correr atrás da diferença, vista a atuação online da direita, que tem muitos recursos financeiros e aparatos. Temos testado várias linguagens e estamos em permanente construção”, revela a editora do site, Bia Pasqualino. Ela ressalta que a grande provocação e dificuldade é ainda abordar temas densos com a fluidez e simplicidade que demanda o mundo da tecnologia. “A gente trabalha com análise crítica, que não é a visão pasteurizada que vemos na mídia tradicional, e queremos atingir um público que não é só militante. Isso é trabalhoso, mas faz com que saiamos da zona de conforto. Se é pra falar de política com humor, é o que faremos”, diz a jornalista.
A transformação da plataforma é resultado de esforço coletivo que envolveu jornalistas, publicitários e programadores não só de São Paulo, como dos estados em que existem as regionais. O Brasil de Fato está trabalhando também com notícias em espanhol para fazer a integração com veículos da América Latina.
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Edição mineira é distribuída gratuitamente, toda sexta-feira
Com 13 anos de atividade do nacional, o Brasil de Fato MG comemora, neste mês de agosto, três de resistência e luta nas ruas. Frederico Santana Rick faz parte do Conselho Editorial do jornal desde 2003 e é atualmente um dos que constroem o semanário mineiro. Segundo ele, o estado possui um histórico de censura à mídia e, com o objetivo de driblar essa barreira, o BF nasceu. “Graças ao controle exercido por Aécio Neves e o PSDB aqui, quando o grupo nacional propôs a criação de edições estaduais encontrou solo fértil em Minas”, relata.
Ele explica também que atualmente a meta principal é fazer com que o tabloide chegue a todas as regiões de Minas e que tenha uma tiragem semanal acima de 100 mil exemplares. Hoje, são 40 mil. “Há um enorme espaço para os veículos de comunicação que se proponham a noticiar os fatos na perspectiva dos trabalhadores”, acredita.
É o que reforça Renan Santos, do Levante Popular da Juventude, que classifica o jornal como um importante “portal dos movimentos populares”. “Hoje é o único impresso de grande circulação onde nos enxergamos. Sempre que o recebemos na rua, podemos ver em cada página a juventude, os negros, trabalhadores, as mulheres, os gays, as lésbicas. Isso fortalece a identidade e a autoestima”, afirma o militante. Ele ainda chama a atenção para a gratuidade dos exemplares. “Temos muito o que comemorar nesses três anos de caminhada, é uma imensa vitória dos que lutam por um país justo e democrático”.
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Outras edições pelo Brasil
Rio de Janeiro
O Brasil de Fato RJ foi lançado em 1º de maio de 2013, com a intenção de fazer a disputa ideológica das narrativas sobre a situação política, econômica, social e cultural do Rio de Janeiro. A partir de agosto de 2015, o jornal passou a circular dois dias por semana e a ideia é que seja lançada uma terceira edição até o fim deste ano.
“O projeto de tabloides gratuitos em diferentes estados é algo extremamente inovador e audacioso. Só teremos real dimensão do significado e do projeto no futuro. Ao que tudo indica, viveremos uma ruptura democrática no final deste mês e, nesse contexto, o Brasil de Fato será cada vez mais necessário. Estaremos atentos para fazer as críticas e apontar saídas para a classe trabalhadora”, sustenta a editora do jornal carioca, Vivian Virissimo.
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Pernambuco
O Brasil de Fato PE surgiu em 1º de abril de 2016. A experiência é a primeira no Nordeste e foi criada para representar trabalhadores, movimentos populares e sindicais. Vive atualmente um processo de consolidação, com periodicidade quinzenal e equipe reduzida. “Planejamos nos tornar um semanário em 2017 e alcançar todas as regiões do estado ainda no segundo semestre de 2016. Trabalhar no Brasil de Fato, pra mim, é conseguir exercer a profissão que escolhi para a minha vida com a opção política de luta pela transformação social”, avalia Monyse Ravenna, editora da edição pernambucana.
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Paraná
Foi em 2011 que a equipe do Paraná iniciou os esforços para criar o Brasil de Fato PR. A partir da movimentação de uma juventude formada por jornalistas, estudantes e comunicadores populares, a edição zero foi lançada no ano de 2014. Desde então, não parou de circular.
“Dentro das diversas experiências de comunicação que temos hoje, o que me dá orgulho no BF é saber que é uma construção coletiva. É um jornal que tem raiz firme na luta social, sindical, popular e também no jornalismo de qualidade”, defende Pedro Carrano, jornalista do tabloide paranaense.
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Edição: 148