Os versos escritos nas lixeiras de Belo Horizonte vêm das mãos e da cabeça de Felipe Arco. Nascido no São Geraldo, na região Leste da capital, o rapaz tem hoje 25 anos, mas já uma década de lata e caneta na mão. Ele insiste em enfatizar que o resultado do seu trabalho só existe por sua origem no Hip Hop.
Por que levar poesia pra rua? “Foi tudo muito natural”, conta. Numa viagem que fez há um ano com três amigos, passando por 15 estados do Brasil, começou a deixar mensagens poéticas pelo caminho. Escrevia em muros abandonados, em postes, em locais públicos. A viagem também deu origem ao seu segundo livro “12 mil km e infinitas poesias”.
Chegando a BH ganhou uma “posca”, caneta de pintura corporal, e escreveu em algumas lixeiras sem muita pretensão. “As pessoas começaram a tirar foto e me marcar [no Facebook] e eu continuei escrevendo”, conta. Daí para frente a sua página na rede social deslanchou para 140 mil seguidores. O Instagram para 63 mil. E centenas de pessoas mandavam recados sobre como as suas poesias as tinham atingido.
“APESAR DO DESGASTE NÃO DESGOSTE”
Em uma noite em que escrevia em uma lixeira, um policial civil se aproximou e, ao invés de repreender, agradeceu o poeta. Felipe lembra que ele lhe falou: “Minha esposa viu uma poesia sua e isso salvou nosso casamento”. Pelo menos 90% do seu público é de mulheres e vem da rua para a internet, não o contrário, frisa o pixador.
Ritmo e Poesia
O envolvimento de Felipe Arco com o Hip Hop nasceu há dez anos, quando começou a perceber o mundo de uma forma diferente, pixando, grafitando e fazendo rimas de Rap. Suas poesias, aliás, são pedaços de músicas. “Eu faço uma letra de rap e separo ela, transformando em várias pequenas poesias”, diz.
Felipe é defensor de que os muros da cidade reajam à desigualdade social, através de desenhos, mensagens ou frases políticas. “Pixo é uma ação sem educação pra uma cidade sem educação. Enquanto tiver desigualdade vai continuar tendo pixo”, defende.
Mas ele decidiu que seu trabalho deveria trazer à rua um sentimento pouco retratado até então, o amor. E acertou. Ele conta, com orgulho, de muitas as histórias de casais que reataram ou terminaram um relacionamento após lerem as poesias, em passagem por lugares comuns.
“CRIME PREMEDITADO: AMANHÃ VAMOS MATAR ESSA SAUDADE”
3 livros e mil ideias
Felipe Arco gosta de trabalhar com milhares. Para seu primeiro livro, “200 mil paçocas e infinitas poesias”, vendeu paçocas por quase dois anos para pagar a impressão. Mais tarde, fez uma viagem de dois meses que deu origem ao segundo livro, “12 mil km e infinitas poesias”. Agora lança a ideia de seu terceiro. Vai distribuir 30 mil papéis A4 com algumas poesias, pedindo que eles sejam passados à frente. Ele espera atingir 200 mil pessoas.
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