É bem comum ouvir por aí que o racismo não existe mais no Brasil. Afinal, a escravidão foi abolida em 1888 libertando negros e negras para venderem “livremente” sua força de trabalho em um capitalismo nascente. Mas, junto com a escravidão, foi aniquilado o preconceito? Foi destruída a violência? Basta ver qual é a situação do povo negro nos dias de hoje.
Nas grandes cidades, ocupam as periferias, com menos serviços públicos, menos postos de saúde, com saneamento básico precário, com ausência de transporte público, inexistência de creches e escolas públicas e de qualidade. A juventude negra é vítima da falta de perspectivas e de oportunidades causadas pelo neoliberalismo. Sobretudo, é vítima da polícia. O que há, na prática, é uma verdadeira chacina que mata mais jovens que em locais onde existe invasão de exércitos.
O Mapa da Violência de 2016, publicado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), demonstra que houve um crescimento do número de mortes de jovens entre 15 e 29 anos no Brasil. Enquanto no conjunto da sociedade, o crescimento de homicídios por arma de fogo cresceu 592,8% no período de 1980 e 2014, entre os jovens o número subiu para 699,5%. A maioria desses jovens é negra.
Nas universidades, a negritude ainda compõe a menor parcela, embora tenham conquistado mais vagas por meio de cotas e programas de financiamento promovidos pelos governos do PT. No mercado de trabalho, negros e negras são os profissionais que ocupam os postos mais precários, são alvos da terceirização e da informalidade. As mulheres negras, sofrem com a conjugação perversa entre racismo, patriarcado e capitalismo. Essas formas de organização da sociedade, sustentadas pela opressão e exploração por causa da raça/etnia, do sexo e da classe social, empurra as mulheres negras para a base da pirâmide. De toda a população, são elas que recebem os piores salários e ocupam a maioria dos empregos informais. São chefes de família, mas acumulam trabalho doméstico de outras casas quando exercem a função de diarista ou empregada doméstica.
No que tange à violência, o que mostra a mesma publicação da Flacso, na versão de 2015, é que a sociedade é cruel com as mulheres, ainda mais com as negras. Os homicídios de mulheres negras aumentaram 54% em dez anos no Brasil, passando de 1.864, em 2003, para 2.875, em 2013. No mesmo período, o número de homicídios de mulheres brancas caiu 9,8%. Resultado da articulação entre o racismo e o patriarcado.
Na mídia – que é monopolizada, elitista e golpista – a população negra não se vê representada. Quando aparecem em novelas, os negros quase sempre estão associados à pobreza e a miséria. As negras são as domésticas consideradas “praticamente da família” ou as mulatas exóticas que exibem o “que a brasileira tem de melhor”.
Todo dia é dia de combater o racismo
Embora se fale mais sobre esse assunto no mês de novembro, devido ao Dia da Consciência Negra, o racismo é algo que deve ser combatido cotidianamente. Em tempos de golpe no Brasil, a opressão e a intolerância tendem a se fortalecer, devido ao conservadorismo e aumento das desigualdades sociais.
A condição do povo brasileiro certamente vai piorar com todas as medidas reacionárias do governo não eleito de Michel Temer. Ou seja, a Reforma da Previdência, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 55 e a Reforma Trabalhista são medidas que vão atingir em cheio a vida do povo negro, sejam mulheres, jovens ou terceirizados.
Mas o avanço neoliberal exige de toda a classe trabalhadora resistência. A transformação dessa realidade e o restabelecimento da democracia brasileira dependem, como nunca antes, da construção de unidade entre as forças populares. Os direitos do povo negro, de uma vida sem preconceito, violência e com dignidade, passa necessariamente pelas reformas estruturais que nunca aconteceram no país. É tempo de juntar forças e colocar um projeto de Brasil que seja negro, feminista, popular e que busque a construção a longo prazo de uma sociedade mais justa e mais humana.
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