Minas Gerais

Entrevista

Júlio Turra: “Greve geral é uma necessidade”

Frente Brasil Popular anuncia protestos para 2017 e defende “Diretas Já”

Belo Horizonte |
Turra "Não vamos nos deixar intimidar com a repressão”
Turra "Não vamos nos deixar intimidar com a repressão” - Gerardo Gamarra / Alba Movimientos

A Frente Brasil Popular (FBP) é uma das experiências de aglutinação de forças contra o governo não eleito de Michel Temer, em um cenário em que a palavra “unidade” é essencial no país. Para explicar os rumos da Frente, o dirigente sindical Júlio Turra, diretor executivo da Central Única dos Trabalhadores e uma das lideranças da FBP, fala sobre os resultados da primeira plenária nacional, que aconteceu em Belo Horizonte, nos dias 7 e 8 de dezembro.

Brasil de Fato -  A plenária nacional da FBP trouxe uma projeção de futuro desastrosa para os trabalhadores, especialmente para as mulheres, os negros, os LGBTs, as comunidades tradicionais. Dentre tantos retrocessos, quais são prioridade em 2017? 

Julio Turra - A prioridade agora é barrar a contrarreforma da Previdência, que ataca o conjunto dos trabalhadores do campo e da cidade. O governo Temer passa por uma crise profunda de falta de legitimidade e popularidade. Como é dependente de uma base parlamentar corrupta, quer acelerar o ritmo do desmanche da Previdência pública, abrindo mercado para os planos de previdência privada dos bancos. Já se anuncia também uma contrarreforma trabalhista, que vem sendo abordada no STF, com terceirização ilimitada e a tese do “negociado valer mais que o legislado”, que transformaria os direitos consagrados na CLT em letra morta.  

Por que se fala tanto em greve geral? Quais os motivos de apostar nela como forma de luta? 

Um ataque da envergadura descrita acima exige uma resposta do conjunto da classe trabalhadora e o instrumento para tanto é a Greve Geral. Não se trata de uma “aposta”, mas sim de uma necessidade. O eixo da greve geral é o de “Nenhum direito a menos!”. A CUT vem buscando a unidade de ação com outras centrais que efetivamente queiram construir essa mobilização unitária da classe trabalhadora, o que não é o caso da cúpula da Força Sindical, por exemplo, que quer é negociar mudanças na proposta do governo para tentar “dourar a pílula”. 

Hoje, os trabalhadores têm condição de fazer essa greve geral? 

O desemprego em alta não favorece a mobilização, mas os trabalhadores vêm demonstrando adesão às sucessivas jornadas de luta que a CUT e a Frente Brasil Popular fizeram no último período. O tema da Previdência é caro para a família trabalhadora, o que faz crescer a possibilidade de mobilização em todas as categorias, à condição de que as direções sindicais, nos seus diversos níveis, entrem de cabeça na preparação da Greve Geral.

Quais são os principais calendários de luta para 2017?

Começaremos o ano já na batalha contra as “reformas” da Previdência e trabalhista, cuja tramitação pode ser rápida no Congresso, apesar da crise política e institucional que atravessamos. Em abril e maio discute-se a realização de uma grande marcha a Brasília, tomando apoio nas tradicionais manifestações do MST e outros movimentos rurais, que traduza a questão do “Nenhum direito a menos”. Mas há incertezas e a situação é pouco previsível, pois os ataques se aceleram ao mesmo tempo que o governo golpista se enfraquece diante das delações da Odebrecht que envolvem, além de dezenas de golpistas, o próprio Temer. Teremos que estar em alerta permanente para convocar ações de luta no início de 2017.
Algumas entidades e manifestações de esquerda passaram a sofrer mais repressão e perseguição depois do golpe. Qual a resposta da Frente em relação a esse aumento da violência contra a esquerda? 
Não diria que é uma resposta, mas uma indicação de que não vamos nos deixar intimidar com a repressão. É evidente que os manifestantes coxinhas de direita não são reprimidos, pois fazem parte da coligação golpista e suas ações se dão de forma combinada com ela. De outro lado, criminalizar os movimentos sindicais e populares, figuras como o ex-presidente Lula, faz parte do arsenal usado para tentar diminuir a resistência aos ataques inclusive à soberania nacional, como se viu na entrega do pré-sal.

A “Carta de Belo Horizonte”, resultado da plenária nacional, traz a defesa das “Diretas Já”, de que seja realizada uma eleição presidencial direta em 2017. A FBP não defendia isso até o momento. O que mudou? 

Mudou o conjunto da situação, pois Dilma foi destituída e assumiu, sem voto popular, Temer. Agora é o próprio Temer que está ameaçado de não chegar a 2018. Seu eventual afastamento levaria à eleição indireta de um presidente pelo Congresso Nacional, o que atualizaria ainda mais a questão de dar a palavra ao povo com Diretas. Mas, do meu ponto de vista, apenas a eleição de um presidente pelo povo não resolve a enorme crise política e institucional do Brasil. É preciso apontar a necessidade de uma Assembleia Constituinte Soberana que faça a reforma política necessária e, a partir daí, encaminhe as reformas populares pendentes em nosso país: agrária, urbana, tributária, democratização da mídia etc.

Edição: ---