O carnaval de Belo Horizonte (MG) já é tido como um dos maiores do Brasil. Neste ano, são esperadas 2,4 milhões de pessoas, de acordo com estimativa da Belotur.
Dentre as centenas de blocos que se apresentam na capital, ganham destaque os que trazem à tona a cultura afro-brasileira, como o Angola Janga, o Afoxé Bandarerê, o Dreadlocko, o Bloco do Zé Pretinho e outros. No ano passado, os blocos afro mobilizaram cerca de 80 mil pessoas em seus cortejos.
Nayara Garófalo, presidenta da Associação dos Blocos Afro de Minas Gerais (Abafro-MG), conta que esse número é muito maior, se “considerarmos que os grupos atuam o ano inteiro, com ensaios abertos e gratuitos que chegam a reunir 2 mil participantes”.
Luta contra o racismo
De acordo com Nayara, um bloco afro tem responsabilidades que transcendem a apresentação no carnaval. “Um dos principais objetivos de um bloco afro é a luta contra o racismo. Em um âmbito nacional, gera mídia, visibilidade e lucro para grupos e pessoas que, historicamente, seguem na invisibilidade”, explica.
Ela ressalta que todos os blocos possuem projetos sociais. Seus membros são agentes transformadores de suas comunidades e trabalham muitas vezes sem incentivo. Lutam pela promoção da equidade racial, por melhores condições para periferias e para os moradores de rua.
Visibilidade
Um encontro de blocos afro na Praça da Estação, centro da capital mineira, vai oficializar a abertura do carnaval de BH. No dia 24 de fevereiro, a partir das 19h, acontecerá o Kandandu, que significa “abraço” na língua kimbundu.
A abertura é resultado de um ano de articulação com a prefeitura. “Colocar os blocos afro como ponto de partida é, para nós, um sinal de um entendimento de que o carnaval vem desse povo e dessa cultura. É uma função histórica, social e política do município e da sociedade”, defende Nayara.
Festa com religiosidade
O integrante do Afoxé Bandarerê, Tata Márcio, explica que o carnaval de Belo Horizonte, a partir da ascensão dos blocos de cultura negra, ganha também em religiosidade. O artista conta que muitos dos grupos surgiram, inclusive, pela necessidade de fazer uma festa em que praticantes das religiões de matriz africana curtissem o carnaval valorizando suas raízes. “O afoxé [termo que denomina blocos afro-religiosos que saem durante a folia] virou tradição para abrir o desfile das escolas de samba no Rio de Janeiro, é uma espécie de benção”, diz.
Honrando o costume, o Afoxé Bandarerê também vai benzer as escolas da capital mineira, apresentando-se antes delas no primeiro dia do desfile. “É importante lembrar que os blocos afro reforçam a cultura de reparação. O apoio a esses grupos e outras políticas públicas para negros significa que o Estado está admitindo a desigualdade racial”, completa o músico.
O bloco Angola Janga é outro que caiu nas graças do público. Parte de uma das atrações mais esperadas para o carnaval deste ano, os integrantes dizem que sucesso é “garantia de que estão no caminho certo da luta”.
“É um caminho que não é traçado apenas no carnaval. Atuamos em escolas, ocupações, palestras, e sempre buscamos conversar sobre os assuntos de importância ao nosso povo”, diz uma das regentes, Fabiane Etiene.
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