Fortalecer uma rede de mulheres e divulgar seu trabalho. Essas ações parecem urgentes e necessárias em um contexto de desigualdade de gênero no mercado de trabalho. Apesar de trabalharem cinco horas a mais por semana, a renda das mulheres equivale a 76% da dos homens, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Como as medidas para combater essa injustiça são insuficientes, algumas mulheres criam mecanismos que possibilitam a valorização de seus trabalhos autônomos, através de coletivos compostos só de mulheres, chamados de “auto-organizados”. É o caso do grupo no Facebook “Juntas Geramos Renda”, criado no ano passado pela terapeuta holística e cientista social Nathalia Duarte.
“Foi uma ideia que surgiu em um momento em que as pessoas estão perdendo o emprego e se realocando financeiramente. Mas também é um espaço em que a gente pode trocar experiências e unir forças”, explica.
Hoje, o grupo conta com quase 21 mil mulheres que oferecem serviços e produtos de todos os tipos, desde artesanato a reparação hidráulica. Larissa Ribeiro é um das empreendedoras que divulga suas atividades na página. Ela é uma das idealizadoras da Working Girl, empresa de manutenção residencial voltada ao atendimento exclusivo do público feminino.
“Estamos no grupo desde o início e quando as novas integrantes procuram por trabalhos que realizamos, as mulheres que já estão lá nos indicam na hora”, conta. A Working Girl é constituída de uma equipe técnica especializada e presta serviços de hidráulica, pintura, montagem e desmontagem de móveis e reparos em geral.
Viviane Almeida, motorista da Uber e da Cabify, também divulga seus serviços no “Juntas Geramos Renda”. Para ela, o fato de que mais mulheres ocupem funções que, historicamente, são consideradas masculinas, está ligado à autonomia. “Isso mostra o quanto estamos crescendo, quebrando antigos paradigmas. Somos fortes e podemos ser independentes se quisermos”, defende.
Feminismo em alta
Um dos motivos que levam o público feminino a procurar profissionais mulheres está relacionado à segurança. “Muitas de nossas clientes - e até nós - já fomos vítimas de assédio por profissionais mal-intencionados. E além disso, alguns homens abusam quando percebem que a cliente não compreende muito bem o que se passa dentro de casa”, conta Larissa.
Além disso, mulheres têm cada vez mais incentivado o trabalho de outras, em uma perspectiva de construção de uma rede de solidariedade. “A maioria das minhas clientes se sente mais segura em andar de carro com uma motorista mulher do que com um homem. Mas outras me procuram pelo fortalecimento feminino mesmo”, aponta Viviane.
Edição: Joana Tavares