Minas Gerais

Carnaval

Sem apoio da prefeitura, blocos de Nova Lima decidem desfilar

Executivo informou que não possui recursos para manter folia, mas blocos criticam e criam frente independente

Belo Horizonte (MG) |
Neste ano, festa tem caráter de protesto
Neste ano, festa tem caráter de protesto - Reprodução - Bloco "Atrás do Fórum"

O carnaval de Nova Lima, um dos mais tradicionais de Minas Gerais, foi cancelado pela prefeitura sob justificativa de falta de recursos. A folia, que acontece na Região Metropolitana de Belo Horizonte, costumava reunir por dia mais de 40 mil pessoas de todo o estado.

A decisão do município culminou na criação de uma frente independente dos blocos da cidade, que resolveram sair às ruas mesmo sem incentivo. A ideia é fazer um desfile unificado na sexta-feira (24), e também auxiliar a saída de bloquinhos menores nos outros dias do carnaval. 

Vanessa Moreira, integrante do “Atrás do Fórum”, um dos blocos do coletivo, afirma que neste ano a festa ganha caráter de protesto e revela que o Executivo municipal não liberou alvarás e nem apoio da Guarda Municipal e Polícia Militar. Para ela, a suspensão faz com que a cidade perca parte de sua cultura e tradição. “Sofremos uma mudança de governo que agora puxa mais para o lado neoliberal e fez com que o Legislativo da cidade se tornasse, em maioria, conservador”, critica. “Nova Lima tem um orçamento que gira em torno de R$ 499 milhões, então não entendo o cancelamento do carnaval. Nossa união é uma espécie de manifesto”, reforça.  

Apenas um dos blocos mais famosos da cidade irá desfilar. É o Marylou, que também sai na sexta de forma autônoma. Já os demais - Bloco dos Sujos, Olosujos e Bloco da Taioba - passarão 2017 em branco. “Incentivar o carnaval é incentivar o fortalecimento das raízes do povo. O Bloco dos Sujos, por exemplo, surgiu quando os garimpeiros da mina da Morro Velho [da mineradora AngloGold Ashanti] saíam do trabalho todo sujos de lama e iam brincar na festa”, complementa Vanessa.

Luís Pereira, conhecido na cidade como “Luís dos Sete Irmãos”, é o fundador do Olosujos, que surgiu em 1992, e conta com pesar que aos 51 anos de idade essa é a primeira vez que vai passar o carnaval longe de Nova Lima. “Acho que é uma manifestação plural, um período em que todos têm o direito de sair, se fantasiar. Acredito que a festa poderia sim acontecer este ano, talvez menor. Cancelar é doloroso para os moradores”, relata.

Procurada, a Prefeitura de Nova Lima alegou que a medida é “essencial para que o município possa investir em serviços básicos” e que “caso a situação melhore”, pretende realizar um carnaval “como Nova Lima merece” em 2018.

Betim e Contagem

A prefeitura de Betim também chegou a anunciar a possibilidade de não realizar a folia este ano. No entanto, segundo nota oficial, o carnaval seguirá normal e deve ter o apoio prometido. Em Contagem, a programação oficial conta com atrações até o dia 28 de fevereiro.

Edição: Joana Tavares