A pequena grande felicidade da minha semana veio a partir da decisão de ir ao cinema para assistir um filme do qual eu nunca tinha ouvido falar. A história, que até então me era desapercebida, falava sobre duas meninas que decidiram sair de Portugal para viver em Belo Horizonte.
Eram elas Teresa e Francisca, morando n'A Cidade onde envelheço'. O longa, dirigido por Marília Rocha, retrata afinal uma capital que eu conheço. E não só porque nela trabalho e passo a maior parte das horas do meu dia, mas porque é fiel. Fiel a cada esquina, a cada beco, cada bar, cada Centro que vive em cada um.
Enquanto assistia, não consegui tirar da cabeça os versos de João do Rio, que já dizia que “a rua nasce, como o homem, do soluço, do espasmo”, e que são as pedras desgastadas das calçadas que nos constroem, não o contrário. E lá estava uma Belo Horizonte a construir duas mulheres, mais ou menos da minha idade, que tentavam se achar no mundo. Duas mulheres que elegeram a cidade onde quero envelhecer para fazer parte da sua busca.
É uma obra para quem respira o Centro. Para quem vive, sem fetichismo, sua alma e seu suor. Para quem está acostumado a partilhar o último cigarro com um desconhecido que lhe parou para contar da vida, para quem entende e muitas vezes se irrita com a lógica das gambiarras dos “quase prédios” mineiros, e para quem compreende a beleza de ver a vida passar sem grandes acontecimentos.
O filme trata, com delicadeza, a chegada mansa da maturidade, que nos faz afago e bate à porta sem alarde, mas é concreta. É uma narrativa de amizade e uma carta aberta à cidade, um agradecimento respeitoso de quem pôde se conhecer mais pelos caminhos daqui.
“A rua é o aplauso dos medíocres, dos infelizes, dos miseráveis da arte”.
João do Rio
Edição: Joana Tavares