Minas Gerais

CRIATIVIDADE

Bibliotecas públicas de MG recebem projeto inusitado de incentivo à literatura

Um homem com cabeça de coruja, outro com capacete e o "livrão" aparecem nas escolas de surpresa, divertindo a garotada

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
O projeto lida com a curiosidade dos estudantes
O projeto lida com a curiosidade dos estudantes - Hugo Honorato

O homem-coruja faz as coisas mais estranhas. Mas a pior delas foi a sua primeira aparição na escola Municipal Professor Lourenço de Oliveira, no telhado. “O que é esse bicho? O que está fazendo ali?” Crianças de aproximadamente 12 anos gritam e se movimentam de um lado para outro, transtornadas. Elas não têm a menor ideia do que está acontecendo e parecem extremamente animadas com isso.

Este é o projeto Ninho da Coruja, que conta com dois personagens: um homem com cabeça de coruja e outro com capacete e roupas igualmente estranhas, o Vladas. Em um dia, sem nenhum aviso, eles entram na escola, arrastando uma caixa pesada e fazem coisas intrigantes, sem falar uma palavra. O terceiro personagem aparece de dentro da caixa, o “livrão”, e todo mundo se encaminha em bando para a biblioteca.

“Vira uma loucura geral, uma loucura! Elas levantam mil hipóteses por segundo. Com raciocínio lógico ou com histórias fantásticas”, tenta explicar o pesquisador em educação Cláudio Brandão, que observou a performance do homem-coruja. “O projeto lida com a curiosidade da criança. São seres misteriosos que chegam do nada e despertam algo instintivo dentro delas”, diz.

Fora da lei

O objetivo é criar um rebuliço entre as crianças, mas também estimular que elas se apoderem dos livros e da biblioteca. A fantasia se segue por mais três visitas: com uma caça ao tesouro, fotos do homem-coruja escondidas pela escola e um vídeo dos personagens, junto às crianças, passando ininterruptamente em uma TV por muitos dias; tudo isso usando a biblioteca como espaço central da performance.

“Demos um passo atrás. Ao invés de fazer campanhas de leitura, pensamos em criar o interesse em entrar na biblioteca”, conta o ator e professor de teatro Lúcio Honorato, que interpreta o homem-coruja. “E também não queríamos que fosse um projeto infantilizado, porque a maioria dos projetos trata as crianças como se fossem idiotas. ‘Conheça a biblioteca’, ‘Leia mais’, isso não funciona. Vira uma das coisas que aprendemos que é boa, mas não fazemos”, defende. 

O caráter transgressor do projeto seria uma das suas características fundamentais. “A escola é uma repetidora de ações para disciplinar as crianças a ter uma vida ordinária quando crescem”, critica Lúcio. “A ideia é criar essa bomba de informações e deixar isso no ar”, finaliza.

O projeto

O Ninho da Coruja já aconteceu em três escolas: na Escola Municipal Professor Lourenço de Oliveira, em BH, e nas Escolas Municipais Dona Gabriela Leite de Araújo e Júlia Kubitschek de oliveira, em Contagem. A idealização é de Lúcio Honorato, Denismar do Nascimento e Randolpho Lamonier. Vídeos de Marco Vieira e fotografia de Hugo Honorato.

Assista ao projeto aqui.

Edição: Joana Tavares