São cada vez mais comuns histórias de motoristas de ônibus que abandonam os coletivos durante o horário de trabalho. Na mais recente delas, registrada na segunda semana de abril, um trabalhador deixou o veículo, que estava com passageiros, na hora de pico do trânsito no Centro de Belo Horizonte.
Uma pesquisa recente da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) revela uma realidade crítica para a categoria, que, segundo os dados coletados, já teve 35% dos funcionários licenciados por terem sofrido algum tipo de agressão. A Confederação Nacional de Transportes (CNT) também apresentou um levantamento que mostra que 57% dos motoristas brasileiros consideram a profissão desgastante e cansativa, e que 77% dos profissionais reclamam do estado de conservação das ruas e avenidas que usam diariamente para trabalhar.
Segundo o presidente do Sindicato dos Rodoviários de BH e Região Metropolitana (STTRBH), Ronaldo Batista, nos últimos tempos o índice de trabalhadores que adoecem só aumenta: atualmente, 30% estão parados para tratamento.
“Vivemos sob uma imensa pressão dos patrões e somos submetidos a xingamentos e agressões físicas. O sindicato registra cerca de seis ocorrências dessas por dia, além de enfrentarmos sempre um trânsito caótico. Tudo isso contribui para casos de abandono dos postos de trabalho”, diz Ronaldo.
Sem apoio psicológico
Ele pontua também que, no decorrer da vida dos profissionais, não existe qualquer acompanhamento psicológico. O suporte só aparece depois dos sintomas graves das doenças, como possíveis surtos. De acordo com Ronaldo, em circunstâncias do tipo, o trabalhador é afastado e, após cumprir a licença, é quase sempre demitido pelas empresas. “E dificilmente essa pessoa irá conseguir se recolocar no mercado de trabalho. Muitas vezes é preciso pagar por um tratamento sem falar com o patrão”, continua o presidente.
Metroviários são multados por greve
Problemas semelhantes são enfrentados pelos trabalhadores do metrô. Para o presidente do Sindicato dos Empregados em Transportes Metroviários e Conexos de Minas Gerais (Sindimetro-MG), Romeu Neto, o principal motivo é a falta de recursos para a manutenção do serviço, o que afeta diretamente os motoristas, de diferentes formas. São estações e trens lotados, atrasos, falta de segurança, veículos desgastados e ultrapassados.
“Os usuários merecem um metrô de qualidade, mas não conseguimos proporcionar isso, porque o governo não faz investimentos. As pessoas desconhecem o quão difícil é exercer nossa função nessas condições”, ressalta. Romeu diz que com esse sistema, o estresse dos condutores cresce e faz com que eles se tornem vítimas de abusos físicos e morais.
“Reflete em tudo. Até na imunidade, fazendo com que o trabalhador gripe toda hora, tenha dores de cabeça”, afirma. O departamento de saúde ocupacional da empresa também é insuficiente para contornar os casos de sofrimento, de acordo com Romeu.
Multa por se manifestar
Além de todos os problemas, os metroviários ainda foram multados pelo Tribunal Regional do Trabalho de Minas Gerais (TRT-MG), por paralisarem as atividades nos dias 15 e 31 de março, datas que não correspondem a lutas particulares da categoria, mas sim a uma agenda nacional contra as reformas do governo de Michel Temer. A última penalização se soma a outras do ano passado e juntas já ultrapassam os R$ 400 mil.
Por ser considerado um serviço essencial, foi exigido que, nas mobilizações, o metrô funcionasse 100% nos horários de pico e 80% nos intervalos. Essa porcentagem, de acordo com Romeu, os trabalhadores não conseguem cumprir nem em dias comuns, já que a empresa não fornece a capacidade de colocar toda a tropa de veículos nas estações de uma só vez. A lei de greve prevista em Constituição estipula que 30% dos carros funcionem em dias de paralisação.
“É uma decisão que mostra a total falta de conhecimento do sistema e que tem o objetivo de que os sindicatos percam o poder de pressão aos governantes e de mobilização dos trabalhadores. Mostra que Justiça serve aos patrões e empresários e assim, nós facilmente vamos ser atropelados pelos retrocessos que querem trazer ao país”, completa o sindicalista.
Edição: Joana Tavares