Com a obra da Unidade Municipal de Educação Infantil (Umei) atrasada, famílias do bairro Jardim Montanhês, região noroeste de Belo Horizonte, sofrem sem locais públicos para educação das crianças.
Há nove anos, a gestão do ex-prefeito Marcio Lacerda (PSB) desapropriou o terreno onde funcionava uma creche comunitária para a construção da unidade. A obra, no entanto, só começou a sair do papel em 2013, e segue até hoje sem conclusão.
Logo depois da desapropriação, algumas crianças da creche foram transferidas para escolas municipais mais distantes. Outras ficaram sem estudar. “Muitas mães que tiveram seus filhos designados para outras instituições não tinham dinheiro para pagar passagem e não conseguiram mantê-los matriculados”, explica a moradora Luzia Barcelos.
A situação é a mesma para os pais de crianças que nasceram depois da construção da Umei, como conta Poliane Cardoso. Ela tem duas filhas, uma de quatro anos e outra de oito meses. A mais velha só arrumou vaga em um bairro vizinho, o Engenho Nogueira. Para levá-la e buscá-la todos os dias, Poliane gastava quase R$ 300 reais por mês com ônibus, dinheiro que não tinha.
“Deixava de comprar alimentação para não faltar passagem. Quando a minha filha de oito meses chegou, ficaria impossível ficar indo de lá pra cá com as duas, então, com sorte, consegui uma creche conveniada que cobra R$ 70 mensais por aluno”, conta a mãe, que é dona de casa e esposa de vendedor.
Outro caso é o de Renata de Passos, que tem uma filha de um ano e precisou ficar sem trabalhar para cuidar da bebê, já que não tinha onde deixá-la. Quando arrumou um emprego, teve que matriculá-la em um bairro ainda mais longe, o Jardim Alvorada. Renata andava a pé para economizar.
“Meu marido estava desempregado, eu pedia ajuda para minha vó e mesmo assim não conseguia dinheiro para o mês todo. Tinha que carregar o bebê no colo, mesmo em dia de chuva e frio”, diz. Hoje, depois de meses de espera, ela conseguiu vaga em um abrigo no Jardim Montanhês.
Construtora abandonou obra
A promessa da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) para a criação da Umei na área, que até então pertencia à paróquia Santa Margarida Maria Alacoque, era que o número de vagas da educação infantil na região aumentaria de 100 para 440. Porém, apesar de a desapropriação ter acontecido em 2008, a licitação só foi realizada em 2011 e, em 2014, a empreiteira responsável abandonou a obra. O imóvel estava 75% concluído e 25% inacabado – situação em que ainda se encontra em 2017.
De acordo com Luzia Barcelos, com a construção inacabada, o bairro já enfrentou surtos de leishmaniose e de dengue, além de os moradores lidarem diariamente com o risco de assalto à noite. “A Umei já está até deteriorada, pichada, antes mesmo de funcionar”, ressalta.
Resposta da prefeitura
O novo prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PHS), visitou a região durante a eleição de 2016. Por nota, a Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura apenas informou que uma nova licitação para a escolha de outra construtora deve ser realizada no segundo semestre deste ano.
Edição: Joana Tavares