Minas Gerais

REFORMA

Volta da Secretaria Municipal de Cultura é fundamental para BH, analisam artistas

Promessa de campanha de Alexandre Kalil agrada agentes da cultura

Belo Horizonte |
Outro anúncio do prefeito é a criação do Projeto Profeta Gentileza, que permitiria a ocupação dos locais públicos da cidade
Outro anúncio do prefeito é a criação do Projeto Profeta Gentileza, que permitiria a ocupação dos locais públicos da cidade - Pablo Bernardo / Indie

Ao assumir seu primeiro mandato, o atual prefeito de BH Alexandre Kalil (PHS), se comprometeu a colocar em prática uma reforma administrativa, que tem como um dos seus pontos principais a volta da Secretaria de Cultura e a transformação da Fundação Municipal de Cultura (FMC) em um órgão secundário, que servirá como "braço de apoio" e de execução das demandas culturais do município. O objetivo seria incentivar o planejamento, reduzir gastos internos e reaproveitar equipamentos inutilizados para conseguir investir em novos projetos e na cultura popular.

Extinta na prefeitura de Fernando Pimentel (PT) em 2005, a Secretaria Municipal de Cultura de Belo Horizonte é reivindicação antiga da classe artística da cidade e foi promessa de quase todos os candidatos que desejaram ou sucederam o cargo de prefeito da capital - inclusive Marcio Lacerda (PSB), ex-chefe do executivo. No entanto, parece que só agora, em 2017, ela sairá do papel.

Até então, a proposta foi bem recebida pelos movimentos culturais, artistas e coletivos mineiros, que criticam de forma unânime a falta de diálogo das antigas gestões da prefeitura.

Para a vereadora e atriz Cida Falabella (PSOL), os cenários anteriores demonstram a valorização de uma "cultura de fachada", que nada tinha de real. "A FMC tornou-se um órgão realizador de eventos absurdamente caros, que contam com grandes estruturas, muita publicidade e deixam poucos legados para a cidade", comenta.

Ela acredita que a volta da secretaria significa o reconhecimento de que a cultura é um direito, e trabalha para que a FMC seja "radicalmente transformada". "BH é pulsante, tem manifestações que não são absorvidas pelos formatos dos editais. Nós não queremos nenhum centro cultural a menos, mas um modelo que dê conta de um novo salto na política pública da cidade", declara Cida.

A opinião é compartilhada pela cantora Titane, que chama a atenção para a atual burocracia dos mecanismos de fomento das atividades culturais, além de pontuar a desvalorização sofrida pelos funcionários do setor. Ela defende a proposta de Kalil, mas com cautela - o histórico da ausência de diálogo é tão doloroso, que o receio do fim do debate continua.

"Kalil tem surpreendido positivamente ao tratar as ocupações urbanas sem considera-las caso de polícia e negativamente ao exonerar médicas excelentes na saúde da mulher. Não sei o que esperar no caso da cultura. Sei que somos e seremos sempre uma pedra no sapato dos maus gestores", ressalta a artista.

Programa Gentileza

Um outro anúncio de Kalil para a cultura é a criação do Projeto Profeta Gentileza, que permitiria a ocupação dos locais públicos da cidade por coletivos e incentivaria os grafiteiros, disponibilizando espaços para a arte urbana.

A iniciativa é contrária ao que acontece na cidade de São Paulo, onde o prefeito João Dória (PSDB) ordenou a cobertura dos murais pintados pelos artistas de rua. Pedro Valentim, da Família de Rua, movimento que organiza há mais de 10 anos o Duelo de MCs no Viaduto Santa Tereza, considera que o programa parece ser positivo, mas se preocupa caso ele venha a incentivar a privatização dos lugares públicos.

"Assim como me preocupa se esse projeto reforçar a perseguição ao ‘pixo’. Com uma visão que insiste na separação entre grafite e pichação, uma coisa pode ser colocada no lugar de arte e outra no lugar de crime", observa Valentim, em alusão à declarações de Kalil, que já se posicionou contra os pichadores.

Sobre a secretaria, o MC avalia que é fundamental sua recriação. No entanto, levanta novamente a questão do diálogo. "Apesar das antigas gestões da PBH terem contado com pessoas competentes e dispostas, a atuação delas foi muito aquém do que poderia ter sido. Qualquer reforma ou reformulação vai funcionar se for feita em conversa constante com a cidade, entendendo as necessidades do setor", complementa.

Reforma aguarda votação na Câmara

De acordo com a Fundação Municipal de Cultura (FMC), a reforma administrativa, assim como a recriação da Secretaria Municipal de Cultura, devem ser iniciadas a partir da aprovação da medida na Câmara dos Vereadores, ainda sem data. A instituição informou que o nome para assumir o cargo de secretário será escolhido pelo prefeito, mas não revelou se já existem candidatos. Na FMC, quem responde interinamente pela presidência é Simone Araújo.

Edição: Joana Tavares