Numa sala da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), campus Pampulha, os sete integrantes de um grupo musical conversavam e aqueciam as vozes para uma apresentação. Era dia 17 de maio, véspera da data marcada pela luta contra os manicômios. Mais uma chance para convencer o público de que doidas não são as pessoas que possuem sofrimento mental, mas sim a sociedade que constrói hospícios.
O grupo musical São Doidão é uma das experiências mais visíveis do método antimanicomial. É formado por oito integrantes, a maioria portadora de sofrimento mental e em tratamento terapêutico nos Centros de Referência São Paulo e da Pampulha, ambos em Belo Horizonte. O conjunto de violão e vozes interpreta músicas da MPB e também composições próprias: Canto do Peru, Amor de Favela e São Doidão.
Em 2009 o grupo recebeu o prêmio nacional “Loucos pela Diversidade”, do Ministério da Cultura e Fiocruz. Em 2013 conseguiu lançar o seu primeiro CD, o Devotos pelo São Doidão.
A origem
Wander Lopes, um dos integrantes mais antigos, está no grupo desde o início, em 2005. “Nós tivemos a iniciativa de organizar as pessoas que queriam continuar fazendo música e Helvécio se dispôs a coordenar”, explica. São Doidão foi, então, formado por portadores de sofrimento mental que já tinham conhecimentos na área e por músicos voluntários, como Helvécio Viana e, atualmente, Nando Araujo.
Porém, essa realidade mudou e hoje o grupo já se tornou, produtor de novos músicos. É o caso de Cristiano do Carmo, o mais novo integrante, que está há um mês ensaiando. Ele conheceu São Doidão através do Centro de Convivência que frequenta, que oferece oficinas de teatro, mosaico, música, pintura, crochê e outras habilidades. Cristiano defende que a arte é uma forma de cuidar das pessoas - mais do que uma terapia – e é um canal para extravasar a criatividade.
Buscando um olhar acolhedor
“A diferença está na visão que as pessoas têm de você. Quando elas te veem diferente, você sente”, conta Wander Lopes. Para quase todos os integrantes, o São Doidão é uma porta para a sociedade, para demonstrar que pessoas com sofrimento mental podem fazer muito mais do que você e eu imaginamos e, com isso, tentar derrubar os muros do isolamento. Ser visto sem preconceito é o grande objetivo.
Edição: Joana Tavares