A ocupação da antiga sede do jornal Hoje em Dia por jornalistas, gráficos e empregados na administração dispensados há um ano e três meses ultrapassa a simples luta por direitos. Embora tenha sido esse o motivo central da ocupação, em torno do qual se uniram sindicatos e movimentos sociais solidários aos trabalhadores, ela tem inevitavelmente um componente político que a transforma num símbolo da defesa da democracia.
Cada vez mais, no Brasil, defender o jornalismo significa defender a democracia. É impossível separar o que fazem os patrões da mídia com seus empregados do que fizeram e fazem com o país. É impossível separar o ataque aos direitos dos trabalhadores do golpe que rasgou a Constituição de 1988 e depôs a presidenta Dilma Rousseff.
O caso Hoje em Dia escancara aos brasileiros as relações íntimas entre o golpe, os barões da mídia, os políticos e os empresários corruptos. O golpe foi contra os trabalhadores.
O desrespeito dos antigos e dos atuais donos do Hoje em Dia com seus empregados é apenas uma faceta do desrespeito que eles têm com seus leitores, com o jornalismo e com a sociedade. O Brasil tem hoje uma casta de empresários da mídia que não gosta de jornalismo e nem de jornalistas.
Não podemos mais, jornalistas e brasileiros, ficar à mercê dos interesses políticos e pessoais de empresários e políticos inescrupulosos, que, para manter privilégios custeados com o dinheiro público, falsificam notícias, manipulam informações e arrasam o jornalismo.
Não haverá democracia verdadeira no Brasil, enquanto não houver imprensa democrática capaz de vigiar os três poderes e o gigantesco poder do capital, na defesa dos interesses da maioria.
*Kerison Lopes é presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais.
Edição: Joana Tavares