É preciso mais pressão contra o governo e as reformas
A agenda do golpe continua. A aparente desaceleração das medidas antipopulares e de destruição da arquitetura institucional da Constituição Federal de 1988, em razão de delações e do julgamento no TSE, não podem amenizar a mobilização da sociedade. A tramitação da reforma trabalhista segue no Congresso, com aprovação em seguidas comissões, que indicam uma rota traçada com a astúcia dos covardes, que aproveitam das sombras para se esgueirar.
Mesmo nas cordas, o governo de Temer ainda não caiu e segue operando com incrível desenvoltura. Medidas provisórias e CPIs com foco na autodefesa do mandato estão sendo planejadas. Negociações no Congresso mantêm o padrão de venalidade. O entreguismo não perdeu seu ritmo. A surpreendente mudança de rumo da imprensa em nenhum momento alterou o programa que a própria mídia ajudou a parir e defender com seus analistas de uma nota só, elevados à categoria de intelectuais.
Nunca jornalistas tão medíocres tiveram tanto palanque e demonstraram tanta sabujice aos patrões. Ser puxa-saco ideológico deixou de ser um defeito ético para ser um objetivo profissional. Os comentaristas passaram a competir em subserviência intelectual e ideológica. A situação chegou ao ponto de um noticiário noturno da Globonews alinhar todos os dias cinco bonecos brigando para falar a mesma coisa, num jogral inepto e aborrecido, com direito à presença de um bedel para lembrar o que estão fazendo ali.
Com Temer ou sem Temer, a marcha das reformas segue adiante, já que sua inspiração nunca passou pela figura menor do presidente não eleito. Seu destino patético é prova de sua inutilidade pessoal para o golpe, além dos serviços já prestados na forma de traição. A cada mentira ele se torna menor. A cada nova demonstração de apego ao cargo revela sua pequenez moral. Quando busca apoio à volta, mais evidencia sua solidão, mesmo nos aliados de primeira hora. Como Cunha anteontem, Aécio ontem, Michel é, hoje, o homem a ser evitado. A fila anda.
Essa situação de desgaste aparentemente irreversível, no entanto, não pode diminuir a presença do povo nas ruas. Aos movimentos sociais cabe a tarefa de manter a mobilização e todas as estratégias de combate às reformas. Há um contínuo de ações imprescindíveis que se somam na tarefa urgente de retomar a verdadeira institucionalidade, garantida pela raiz popular do poder. Não há saída democrática sem povo. Não se pode conceber outro espaço para o povo, hoje, que não as ruas.
Greve geral, defesa das eleições diretas, passeatas, atos públicos contra as reformas, mobilizações setoriais, debates nas escolas e universidades, ocupações, incremento da comunicação popular, disputa das narrativas. São muitas ações urgentes que não podem aguardar e nem confiar que a crise vá se resolver pela conciliação pelo alto, arranjos dentro do próprio núcleo responsável pelo golpe ou pela queda do governo pelos seus defeitos de origem.
É importante que a avaliação das atitudes a serem tomadas em todos os níveis da sociedade levem em consideração a urgência da mobilização. Sem a pressão popular não se irá muito longe. A debandada de setores da classe média é mais uma vez um ato condicionado pelos interesses moralistas e regressivos.
A ameaça dos partidos da base de desembarque do governo é apenas a confirmação de seu destino de ratos morais. O protagonismo do Judiciário, da Polícia Federal e de Ministério Público reforça uma lógica que vai do corporativismo ao messianismo, para prejuízo da política e sedimentação do autoritarismo.
Os movimentos sociais já sabem disso há bastante tempo, mas a lição tem que chegar a toda sociedade: está na hora de dar um calor. As altas temperaturas são a melhor estufa para fazer crescer os frutos da revolta e da liberdade.
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