A variedade nos protestos contra Michel Temer é algo surpreendente. Em algumas manifestações, é possível até mesmo identificar “alas” – como as de um bloco de carnaval – compostas por maracatu, fanfarras, carros de som, integrantes de ocupações urbanas. No meio desta diversidade, nasceu um grupo de caráter curioso: as mulheres que se reúnem nos atos para bordar.
Este coletivo é o “Linhas do Horizonte”, composto por mais de 250 pessoas que passaram a se encontrar há um ano para bordar mensagens políticas. O primeiro trabalho foi uma enorme colcha de 83 quadradinhos bordados que entregariam a Marisa Letícia, a falecida esposa de Luiz Inácio Lula da Silva. Marisa morreu antes de receber a homenagem, mas o grupo continuou com vida.
Marcando muita presença
Depois disso, as bordadeiras comparecem aos principais atos políticos de Belo Horizonte. Desde os “Fora, Temer” até causas locais, como o protesto contra o recolhimento compulsório de bebês de mães que tenham histórico de uso de drogas. “Mães e bebês juntos, com vida digna!”, bordaram e estenderam à porta da prefeitura.
O Linhas do Horizonte faz dois tipos de bordados: homenagens mais elaboradas ou faixas para manifestações. Nestas, o bordado acontece geralmente na própria concentração do ato. “Nós já bordamos na rua, na Praça Sete, na Praça da Estação, na porta de ocupação, vamos nos lugares que nos chamam”, conta Leda Leone, arquiteta e integrante do grupo.
As faixas têm feito admiradores em todo lugar. “O bordado político é algo inusitado”, analisa Leda, “porque é remetido ao feminino”. Leda explica que a boa receptividade fez com que convites para realizarem oficinas se multiplicassem. Hoje, 152 pessoas estão comprometidas em mais uma colcha de bordados, desta vez destinada à ex-presidenta Dilma Rousseff.
UNE: uma senhora homenageada
Elas preparam também uma faixa para marcar os 80 anos da União Nacional dos Estudantes (UNE), junto a nomes de estudantes mortos e desaparecidos na ditadura militar. Leda estava à porta do antigo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) em Belo Horizonte, quando deu esta entrevista, sentada no chão com outras companheiras e junto a estudantes, bordando e bem disposta. “É uma honra pra nós”, fez questão de destacar.
Edição: Frederico Santana