PMDB só quer o poder para se manter no poder
Enquanto esquerda e direita se confrontam, os canalhas comemoram mais uma vitória. Essa pode ser a síntese de um enredo político que já passa dos 30 anos, mudando os atores para conservadores e progressistas, tucanos e petistas, neodesenvolvimentistas e neoliberais. E por aí vai. As posições ideológicas, as diferentes visões de economia e os projetos para a sociedade não valem nada frente ao pragmatismo das relações de favor e interesse seguidas pelo grande centrão que se tornou a política brasileira.
Com o sucesso da articulação de Temer para impedir a abertura de investigação sobre o patético crime da mala, o PMDB ganhou mais uma. Na verdade, ele vem ganhando todas e não há desculpa ou teoria - do semiparlamentarismo ao presidencialismo de coalização - que explique tanta ingenuidade das forças políticas trituradas seguidamente pelo dono da banca. O método foi o mesmo: comprar consciências com dinheiro público. O jogo também não apresentou novidades: comerciantes desonestos dos dois lados do balcão.
O professor da Unicamp Marcos Nobre identificou essa praga como pemedebismo. O mau-caratismo de resultados, no entanto, não se limita a um único partido, mas a uma geleia indistinta de interesses que vem sendo base de sucessivos governos, dos mais diferentes partidos. No vale tudo da governabilidade, quanto maior a ausência de substância, maior a versatilidade para integrar diferentes projetos de poder. A diferença do pemedebismo para as outras práticas se dá na ausência de derivativo do poder: ele não quer o poder para nada que não seja manter o poder.
Se no DNA da política tradicional brasileira há um gene originário é exatamente esse gosto pelo poder, ainda que à socapa, com alto poder de mimetização. Um lagarto que muda de cor para permanecer vivo e operante. E que tem na traição seu mais importante diferenciador genético. Ao contrário da biologia, na política pemedebista o parasitismo não tem limite e mata o hospedeiro sem destruir o sistema que lhe garante a vida. O pemedebista, apequenado por definição, precisa chegar ao poder de carona. Instalado, não tem mais compromissos que não sejam com sua própria ambição. Quem pariu Temer, que o embale.
O desafio brasileiro é enorme, além de enfrentar a conjuntura de um golpe. Há várias frentes a serem ocupadas: a de uma sociedade massacrada pelo pensamento único emanado da mídia; a de um Judiciário que perdeu o rumo da defesa da lei em nome de valores corporativos; a do ataque às políticas sociais; a da desnacionalização da economia e da subserviência aos interesses externos. Mas será também preciso dar conta de retomar a política por outros caminhos.
Não se trata apenas de fortalecer a democracia direta, em suas várias instâncias e possibilidades, inclusive de confronto. Mas de também operar na retomada da institucionalidade da representação. Nesse caminho, é urgente que os partidos de esquerda assumam a autocrítica dos erros cometidos, sobretudo na questão ética e na capacidade de fazer alianças estratégicas.
A hedionda sessão de quarta-feira já se orgulha em anunciar seus frutos. As reformas anticivilizatórias, sobretudo a da previdência, passam a ganhar fôlego num Congresso que não se vexa de virar as costas para a sociedade. E, é bom lembrar, se darão no duplo palco das ruas e do Congresso. E, não é preciso reforçar, só serão vencidas nas duas arenas simultaneamente. Por isso a pressão incansável sobre os representantes deve fazer parte de toda estratégia de combate, até que o setor seja varrido da corja que hoje o habita.
Pode parecer enfadonho falar em campanha contra os traidores do povo, mas essa é uma pauta cada dia mais urgente e que vai exigir empenho da cidadania brasileira. Se o próximo Congresso mantiver o mesmo perfil e se os partidos de esquerda se aliarem ao PMDB para garantir a governabilidade, não vai adiantar reclamar depois. Já entramos em campo perdendo de 7 a 1 em política, ética e caráter.
Edição: ---