A Comissão da Verdade de Minas Gerais prepara seu relatório final. Foram quatro anos de pesquisa das violações a direitos humanos no estado durante a ditadura militar, o que deve resultar em 1.500 páginas, segundo o coordenador da comissão mineira, o cientista político Robson Sávio. O lançamento está previsto para novembro.
O destaque do relatório estadual, afirma Robson, é fugir da centralidade da violência a estudantes e movimentos políticos e destacar a repressão contra trabalhadores urbanos e rurais. “Mapeamos quase 100 municípios mineiros que tiveram ação repressiva, com mortos e perseguidos, incluindo quatro etnias indígenas”, adianta.
As pesquisas da Comissão da Verdade mineira irão completar o relatório feito por 300 comissões instaladas por todo o país, elaborando um único dossiê. Apesar de uma apuração rigorosa, o trabalho da comissão não resulta na condenação de crimes relatados, mas aponta recomendações para o Estado. De acordo com Betinho Duarte, vice-presidente da Associação dos Amigos do Memorial da Anistia Política do Brasil, desde a entrada de Temer na presidência da República, os processos foram praticamente paralisados.
Empresas de mãos sujas
Os casos mais emblemáticos levantados no relatório mostram a participação de empresas públicas e privadas na ditadura. Em Nova Lima, a mineradora Morro Velho, hoje propriedade da Anglo Gold Ashanti, é denunciada por impedir 51 trabalhadores de viver na cidade. Outro caso foi o “massacre de Ipatinga”, no alojamento da Usiminas, que resultou em pelo menos oito funcionários mortos pela Polícia Militar.
“O poder econômico é sempre um parceiro da repressão. Os seus sócios lucraram muito com as ações do regime ditatorial, com a expulsão de trabalhadores de suas terras, por exemplo”, avalia Robson Sávio.
UFMG prorroga exposição sobre ditadura
A exposição “Desconstrução do Esquecimento: golpe, anistia e justiça de transição” aberta em 28 de junho, no Centro Cultural da UFMG, duraria apenas um mês, devido a desacordos entre a universidade e o Ministério da Justiça. De acordo com a coordenadora da mostra, Silvana Coser, o material estava pronto desde março e esperou por meses até que a Comissão da Anistia, ligada ao Ministério da Justiça, autorizasse sua abertura. Sem receber resposta, a universidade decidiu inaugurar assim mesmo.
Prevista para acabar dia 31 de julho, a exposição foi prorrogada até 31 de agosto, depois de protestos. Ela está aberta de segunda a sexta das 10h às 19h e aos sábados das 10h às 13h. As obras artísticas serão doadas ao futuro Memorial da Anistia do Brasil, promessa do governo federal desde 2009.
Edição: Joana Tavares