O Brasil se solidarizou, na última quinta (5), com a população de Janaúba, familiares e amigos das vítimas do crime ocorrido em creche da cidade. Além de gerar consternação e solidariedade, a tragédia nos convida a refletir sobre o Brasil de hoje.
Caminhamos às pressas para uma situação de caos social. Multiplicam-se os sinais de barbárie por todo canto. Os sinais afloram da política em Brasília, das Câmaras de Vereadores das menores cidades, passam pela mais alta corte do Judiciário e alcançam juízes de primeira instância. Como não poderia deixar de ser, os sinais de uma sociedade doente chegam até a censura às artes e ao convívio cotidiano.
Acostumados a assistir às chacinas em escolas, hospitais e ruas dos EUA, vemos o grau de letalidade alcançar Janaúba, cidade do norte de Minas de cerca de 70 mil habitantes. O vigia que ateou fogo no próprio corpo, matou quatro crianças de quatro anos de idade e deixou outras 25 internadas com queimaduras graves, não tinha antecedentes criminais.
Na mesma semana, no domingo (1), aconteceu em Las Vegas uma chacina que deixou 58 pessoas mortas a tiros e 500 pessoas feridas, em um festival de música. Nos EUA, a compra de armas é facilitada e 300 milhões de pessoas - de uma população de 323 milhões - têm armas de fogo. Não há dúvidas de que o armamento da população aumenta a violência e as mortes, daí a grande frequência de situações semelhantes no país. Longe de trazer segurança, ou possibilidade de defesa, as armas de fogo geram uma sociedade ainda mais doente.
Nada é isolado
Não é o caso de estabelecer relações causais fáceis e rasas entre a crise política e econômica nacional e o aumento da barbárie em todos os âmbitos da vida em sociedade. Mas, por outro lado, não é possível isolar o acontecimento de Janaúba de um contexto nacional, em que se deterioram os laços de solidariedade e identidade que nos fazem uma comunidade nacional.
Nosso tecido social se esgarça dia a dia, desde o golpe do impeachment sem provas até a imposição de um projeto neoliberal não aprovado nas urnas. A crise ética que abala a elite política, o viés classista e seletivo adotado por boa parte do Judiciário e a inoculação de ódio na sociedade por parte dos meios de comunicação comerciais ganha vida própria e é difícil prever as consequências.
Mas uma coisa é certa: ou repactuamos o Brasil, anulamos todas as reformas ilegais do governo Temer e convocamos uma nova Constituinte através de um governo democrático e popular, ou novas tragédias virão.
Edição: Joana Tavares