Uma mulher negra que, vivendo na década de 1980, criou uma editora com uma visão de mundo que valoriza e propaga a igualdade racial e social. Essa é a história de Maria Mazarello Rodrigues e da Mazza, empresa belo-horizontina especializada em publicações étnico-raciais que está em atividade até os dias atuais.
"Foi difícil, e não quer dizer que hoje é mais fácil", diz ela, que agora tem 76 anos. Desde os 18 trabalhava com edição. Aos 38, quando fazia seu mestrado em Paris, na França, percebeu o quanto era comum a veiculação do trabalho de autores e poetas negros na Europa. Voltou ao Brasil com um plano nas mãos e um sonho na cabeça. Tudo começou com uma velha máquina de imprimir, que ganhou de amigos.
A Mazza ela define como algo que vai muito além de uma editora. Em suas palavras, é uma casa de cultura. Lá, vender não é o objetivo. A editora trabalha com a criação de livros para professores que ensinam às crianças que o mundo é feito por e para pessoas coloridas. "Temos uma publicação que conta a história da Rapunzel, e ela não tem essas longas tranças loiras que dizem, mas sim tranças afro. Ela é lindíssima, uma gracinha, e se apaixona por um príncipe negro”, conta.
As dificuldades do início da Mazza não mudaram muito. Se era penoso o racismo de antes, hoje o projeto que obrigava o ensino da diversidade racial nas escolas está suspenso pelo governo não eleito. E a onda conversadora também não abandonou as salas de aula. Em muitas delas, como afirma Maria, não podem entrar livros que falam de Iemanjá, de Oxum, de Nanã. Assim como não podem aqueles que falam do amor entre dois - ou duas - iguais, obras também prioritárias para a editora.
“Não podemos depender de uma mídia que é branca, de um grupo editorial branco. Seguimos em frente por conta da militância, de movimentos negros que nos divulgam", afirma.
O sentido da Mazza, para Maria, é fazer com que escolas que preparem peças teatrais, por exemplo, pensem em chamar meninas negras para atuar antes de pintarem os rostos das alunas brancas do elenco. E de que mães não briguem porque a filha ficou de dançar quadrilha com um amigo negro.
"Temos esse compromisso com o nosso povo, com a nossa gente. É um compromisso assumido, não tem papel assinado, mas, da minha parte, é uma contribuição que a gente pode dar para tornar esse mundo mais humano", declara.
Edição: Joana Tavares