Uma ação desenvolvida por católicos tenta incorporar o público LGBT à igreja. É a Pastoral da Diversidade Sexual, que surgiu em BH com aval da Arquidiocese e já inspira iniciativas semelhantes em outras cidades do Brasil. Para participantes, o grupo não pretende enquadrar ninguém em um modelo de comportamento sexual, mas permitir que pessoas tradicionalmente afastadas da igreja vivam sua fé sem discriminação.
A Pastoral é fruto de discussões realizadas na Assembleia do Povo de Deus, atividade que a Arquidiocese promove a cada quatro anos, com o objetivo de definir, com participação dos leigos, as prioridades da igreja local em determinado período. Na 5ª Assembleia, realizada em 2016, por iniciativa dos próprios fieis, a diversidade sexual apareceu nas discussões sobre a família.
“Foi votado e passou em assembleia ‘acompanhar e acolher a pessoa na sua diversidade sexual’. Então, é dentro do tema família que se discute essa acolhida, porque sabemos que nas famílias existe a diversidade e essa é uma dimensão que precisa ser trabalhada”, conta o Frei Adilson Correia, da Paróquia de São Francisco das Chagas, no Carlos Prates. Lá surgiu o segundo grupo da pastoral, com 18 participantes.
Felipe Marcelino, coordenador da pastoral, considera um avanço para a Igreja. “Significa que agora existe um reconhecimento das diversas identidades sexuais na comunidade, ou seja, a conquista da cidadania eclesial”, pontua.
O primeiro grupo de BH e do país fica no Santuário de Judas Tadeu, bairro da Graça e começou há um ano. Dele participam, em sua maioria, lésbicas, gays, bissexuais e pessoas trans, além de familiares e estudiosos. “A gente tem encontros quinzenais. No terceiro domingo do mês, a celebração das 20 horas é organizada por nós. Existe um encontro chamado ‘Pensando Diversamente’, com temas da diversidade sexual, a religião e a nossa fé cristã. Foram feitos já três retiros espirituais”, relata Amanda Couto.
Lésbica e mãe de uma menina, Amanda assinala a mudança que o grupo proporcionou em sua vida. “Tenho uma filha de quatro meses que pôde ser batizada, frequentar a igreja junto com a família, nas celebrações que a gente faz. Traz uma realização imensa saber que, efetivamente, a gente é acolhida e pode professar nossa fé livremente”, afirma.
Apoio
Coordenadora do grupo, Camila Santos explica que já existiam diversos grupos de leigos que pautavam a questão da diversidade. Porém, com o status de pastoral, ganha-se reconhecimento e apoio da instituição.
“A pastoral é instituída pela Igreja. Por exemplo, existem a Pastoral da Saúde, Pastoral do Menor, Pastoral Carcerária, Pastoral da Criança. A Pastoral da Diversidade Sexual pode ser considerado com um pouco mais de respaldo do que grupos LGBT católicos que se reúnem para fazer as mesmas coisas que a gente faz. O grupo leigo pode se reunir, por exemplo, em uma escola, na casa de alguém, mas não estar na lista dos trabalhos de uma diocese ou paróquia. A pastoral está”, comenta.
A partir da experiência de BH, outras iniciativas aparecem no Brasil, como em Nova Iguaçu (RJ).
Edição: Joana Tavares