Padre Henrique é da Arquidiocese de Belo Horizonte, participa do Fórum Político Religioso, do Instituto de Direitos Humanos e também das pastorais sociais da Igreja Católica. Nesta entrevista, ele defende as ações do papa Francisco e analisa o cenário do Brasil, que, em suas palavras, percorre o caminho contrário dos princípios do Natal.
Brasil de Fato – A imagem do presépio é muito conhecida: José e Maria, que não encontram lugar para se hospedarem durante o parto e Jesus, que nasce em uma manjedoura, ao redor de homens simples, pobres, e também de pastores e animais. Qual é o significado dessa imagem no Natal?
Padre Henrique – Apesar de Jesus nascer como um sem casa, um sem teto, num estábulo, ele é sinônimo de felicidade, da bondade e misericórdia de Deus. Mostra que Deus gosta tanto da gente que resolveu fazer um de nós, e ainda pobre, para dar apoio e ser solidário às causas do povo. Essa imagem do presépio é muito bonita. Fala de um Deus que se faz criança, que é pequeno, amigo, que ri, aprende, cresce. Ou seja, é uma representação que fala muito, não só para os cristãos, mas para todas as pessoas que visam construir um mundo mais fraterno, amoroso. É não ver Deus como aquele senhor carrancudo que julga as pessoas. É uma criança, que cresce como uma criança, no meio do povo, para dar alento, encorajar, animar, dar esperança, alegria e amor à vida.
O papa Francisco vem insistindo para que a Igreja Católica tome frente e consolide alguns temas, como o compromisso com os mais pobres, solidariedade com os imigrantes, exclusões que marcam a nossa sociedade. Como ligar o Natal a esse momento de “Igreja de saída” – expressão usada pelo papa para definir uma Igreja que sai da sacristia e faz o movimento de ir até as periferias?
“Igreja de saída” significa uma Igreja comprometida com a humanidade, não apenas com os cristãos e cristãs. Uma das primeiras atitudes do papa para colocar esse tipo de Igreja em prática foi falar: “quero uma instituição que seja dos pobres”, e ele tem manifestado isso durante os últimos cinco anos. E tudo isso é muito natalino: uma Igreja que está atenta para levar apoio e luz para que as pessoas que estão nesse mundo possam se sentir felizes e possam construir uma sociedade justa. Isso é Natal, é a presença de Deus nascendo hoje na nossa vida através das ações, dos exemplos e do testamento do papa Francisco.
No Natal, a gente percebe que a sensibilidade e a solidariedade aumentam nas famílias e nas comunidades. A data exige algum compromisso concreto com a nossa realidade?
Claro. “Igreja em saída” é aquela que vai pelos caminhos do mundo, e o que está acontecendo é que no Brasil estão sendo retirados direitos. Tem a reforma da Previdência, a trabalhista, as privatizações, a violência, o desemprego e o sofrimento que crescem cada vez mais... Isso exige de nós um compromisso para mudar. E essa também é a perspectiva do Natal, que traz soberania e bem-viver. A Igreja tem a obrigação de criar um mundo novo, porque esse que está aí não é o mundo da fraternidade.
Mesmo sendo uma festa cristã, o Natal acaba contagiando a todos, especialmente aqui no Brasil. Existe uma dimensão que vai além da cristã nessa época? O senhor poderia deixar uma mensagem para que as pessoas que não são cristãs também possam captar a energia do Natal?
O Natal é a festa de Jesus, não do Papai Noel. É época de um Jesus criança, de cuidado e de carinho. As pessoas que não são cristãs também têm aí uma fonte de humanidade, porque Jesus, o filho de Deus, se faz humano. E tem apoio de Nossa Senhora, do Seu José, dos pastores, anjos e reis magos. É um exemplo para quem quer ser amoroso, fraterno e construir uma nova sociedade.
Edição: Joana Tavares