O Carnaval taí e eis que encontro um amigo preocupado em comprar glitter ecológico. Essa é boa! Milhões de problemas envolvem uma festa como o carnaval, e tem quem se preocupe com o minúsculo glitter e seus impactos na natureza!
Há décadas martelam a ideia que o ser humano está destruindo o planeta. Tal discurso é uma armadilha perigosa. Esconde os reais responsáveis e as reais soluções para os problemas ambientais, ao enganar que a culpa é igualmente de todos.
Primeiro, é real que a natureza está sendo destruída? Sim. Inúmeras pesquisas provam que vivemos uma enorme crise ambiental. A Terra está sendo transformada por meio da emissão de poluentes e pela destruição de ecossistemas terrestres e marinhos.
Já ocorreram cinco grandes extinções ao longo da história da vida na Terra, causadas por fatores naturais (lembra dos dinossauros?). Já é bem aceita pela ciência a hipótese de que está em curso a sexta extinção em massa.
Afinal, quem é responsável por toda essa bagunça? Nos fazem crer que o culpado é a espécie humana. Mas, se analisarmos os dados científicos, veremos que isso não é real. Nossa espécie está presente na Terra há pelo menos 200 mil anos. A crise atual se iniciou há cerca de 300 anos. Convivemos harmoniosamente com o ambiente durante centenas de milhares de anos, sem causar nenhuma grande destruição, até que algo aconteceu por volta dos anos 1800.
Esse ‘algo’ se chama capitalismo. Essa forma de organização social (que se concretizou com a revolução industrial do séc. XVIII) é a responsável pelos problemas ambientais. Nenhuma sociedade anterior causou nada parecido. E quem manda no capitalismo são as grandes empresas. Portanto, a culpa é delas!
Enquanto meu amigo se preocupa com seu glitter, a Samarco e a Vale, grandes mineradoras, destruíram toda a bacia do Rio Doce, ao permitirem o rompimento da barragem do Fundão, em Mariana. É aceitável dizer que eu ou ele temos a mesma responsabilidade sobre essa crise do que os donos da Samarco/Vale? Óbvio que não. Quem destrói o mundo não sou eu ou você. São os 1% que estão no poder.
O glitter ecológico e as outras bobeiras sustentáveis que inventam por aí não salvarão o mundo. Só resolveremos a crise ambiental se colocarmos fim ao capitalismo, um sistema baseado no lucro e na expansão desenfreados, e construirmos no lugar uma sociedade realmente centrada no ser humano e na natureza.
Um abraço e até a próxima!
*Renan Santos é professor de biologia da rede estadual de Minas Gerais
Edição: Joana Tavares