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Entrevista | Conheça a UNE Volante e mais iniciativas para lutar contra o golpe

Ana Júlia Guedes, diretora de Cultura da UNE, discute o papel da juventude na atualidade

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |

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Ana Júlia participa de ato do Diretório Acadêmico da UEMG
Ana Júlia participa de ato do Diretório Acadêmico da UEMG - Elvis Gomes | UEMG Divinópolis

Em um contexto de ataques aos direitos sociais, promovidos pelo governo golpista de Michel Temer, a juventude brasileira sofre com o desemprego, a violência policial e a dificuldade de acessar o ensino superior. Ana Júlia Guedes, diretora de Cultura da União Nacional dos Estudantes (UNE), conversou com o Brasil de Fato MG sobre o que é ser jovem hoje no país e o papel da juventude na resistência ao golpe.

Brasil de Fato MG - O que é ser jovem hoje no Brasil?
Ana Júlia Guedes - Ser juventude hoje no país significa encarar vários desafios muitos concretos. Para além de questões históricas, como participação política, reconhecimento na sociedade, hoje também ser jovem é estar nos piores postos de trabalho, ter altos níveis de desemprego e ter dificuldades de acesso às universidades. Também é estar mais sujeito a violência policial, ao encarceramento em massa. No entanto, também significa ser parte de um dos setores mais ativos da população. Atualmente, dos 20% da população que são jovens, 73% têm entre 19 e 24 anos. É um público visado, inclusive para as eleições.  

2018 é o primeiro ano de vigência da Emenda Constitucional 95, que congela por 20 anos investimentos em serviços públicos, como educação. Quais os efeitos na vida da juventude?
Em algumas universidades grandes, já foi cortado cerca de 40% do orçamento e isso tem efeitos na quantidade de vagas, na assistência estudantil, pesquisa e na extensão. Laboratórios estão sendo fechados, pesquisas sendo interrompidas. No ensino básico, a emenda também tem impactado diretamente, porque quanto menos dinheiro, menos capacidade de os estados ampliarem a rede pública. O mais recente ataque do governo golpista é a proposição do ensino à distância, que é um completo desmonte do ensino público no Brasil. Essa proposta quer transformar a educação em mais um serviço qualquer e não em um direito básico e fundamental. Isso vai gerar efeitos no futuro que são muito piores.

Quais efeitos seriam esses?
Em termos de desenvolvimento científico e de soberania nacional. O Brasil vai deixar de produzir tecnologia, vai deixar de aprimorar sua capacidade de produção e isso vai significar pouco desenvolvimento da economia e dependência ainda maior de outros países. Para o povo brasileiro, a falta de acesso à educação afeta muito a organização popular, prejudica o processo de saber os próprios direitos, qual o valor do trabalho, o que se deve exigir. Na saúde, os cortes no SUS [Sistema Único de Saúde] vão significar diminuição do saneamento básico, do acesso a medicamentos.

As medidas de Temer podem elitizar ainda mais as universidades públicas?
Com certeza. A mudança no ensino, proposta por Temer, que torna sociologia, filosofia e outras matérias opcionais não altera o fato de que elas serão necessárias para o vestibular. Grande parte da população brasileira, que está hoje no ensino público, não vai ter acesso a esses conteúdos, o que vai impedir parcela grande das pessoas de entrar na universidade. A popularização da universidade provocou um fenômeno de pertencimento ao ensino superior e à produção intelectual. Na última década, o tipo de produção ficou diferente. Os movimentos populares, as mulheres, negros e negras e LGBTs tinham voz e isso faz diferença na construção de políticas públicas.

Como a juventude tem reagido aos ataques promovidos à educação?
A juventude tem dado respostas: as ocupações das escolas, das universidades do Brasil todo, os atos, os últimos congressos da UNE. O golpe nos deixou mais vulneráveis, mas também nos colocou mais em movimento. As organizações de juventude continuaram crescendo. Nas cidades, por exemplo, a juventude que produz hip hop, slams [competição de poesia], que movimenta arte e cultura nas periferias cresceu muito. O Levante Popular da Juventude tem dado uma resposta organizativa para esses jovens em seus locais de trabalho, moradia e estudo. E no campo, os jovens, que têm sido afetados com o fechamento das escolas rurais, também têm se posicionado, principalmente associado a movimentos populares, como a MAB [Movimento de Atingidos por Barragens], o MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra] e o MAM [Movimento pela Soberania Popular na Mineração]. A UNE também tem se mostrado como um espaço de organização e de atuação dos jovens. Queremos fortalecer isso com a UNE Volante.

E o que é a UNE Volante?
A UNE Volante é uma iniciativa para este ano, que vai fazer a UNE rodar e chegar a universidades de 15 estados em todas regiões do país. Serão realizados debates sobre soberania, educação e democracia. Começa dia 17 de abril, no Maranhão e vai rodando o Sudeste, Centro-Oeste e Sul até dia 7 de junho, quando termina na USP, em São Paulo. A ideia da UNE Volante é deixar comitês formados em defesa da educação. A UNE Volante vem no sentido de retomada do trabalho de base e de ampliação dos espaços de discussão. É uma ferramenta que vai fazer com que o movimento estudantil fure a própria bolha. Também vai ser um passo na organização para o Congresso do Povo. Em Minas Gerais, a UNE Volante passa no dia 8 de junho em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, e no dia 11 de junho em BH, Na UFMG. Também faremos o Festival Inquietações, que traz diversas linguagens, mostrando que estudantes também são artistas, independente da formação.

Edição: Joana Tavares