Disciplinas que tratam sobre o golpe de 2016 ganham as universidades de Minas Gerais após o ministro da Educação, Mendonça Filho, anunciar que mandou investigar uma matéria sobre o tema na Universidade de Brasília (UnB). Também chamadas “O golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil”, como o curso ofertado no Distrito Federal, as iniciativas acontecem em protesto contra a censura e com o objetivo de denunciar a situação política que vive o Brasil.
Na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) as aulas já começaram. Lá, a decisão foi criar uma disciplina regular do curso de história, que é optativa para os demais alunos da instituição. "A procura foi muito grande, então tivemos que limitar um pouco as vagas e fazer aulas no auditório. É uma turma de 110 pessoas", conta a professora Andréa Lisly, uma das nove docentes do Departamento de História que articularam a ideia. Durante todas as quintas-feiras, os estudantes podem acompanhar debates sobre a influência do poder judiciário, intervenção militar, memórias de ditaduras na América Latina, ataque às minorias, entre outros.
A Pontifícia Universidade Católica (PUC-MG) segue o mesmo caminho. A entidade optou por um seminário que vai acontecer em Belo Horizonte e disponibilizará minicursos sobre temas que envolvem o golpe. Eles serão realizados no mês de maio e destinados ao público em geral – as inscrições serão feitas pela internet.
“O seminário é uma resposta, é dizer que a universidade não se cala diante da truculência e do autoritarismo do governo”, afirma o professor de Ciência Política da entidade, Dimas Antônio. Para ele, a grande função da universidade é a produção de conhecimento crítico, e está aí um dos motivos para criação do curso. “A universidade é capaz de perceber a dimensão do golpe parlamentar, como a mídia o favoreceu e como o judiciário brasileiro participou. Por isso, estamos fazendo a nossa função, nosso compromisso e dever com o país e com o nosso povo”, declara o educador.
Disputando a narrativa da história
Outra instituição que participa desta movimentação é a Universidade Federal de Uberlândia (UFU), onde haverá um curso de extensão que envolve funcionários de aproximadamente 200 unidades acadêmicas. As aulas começaram no dia 7 e contam com mais de 400 pessoas inscritas, entre alunos, servidores e comunidade. De acordo com Jorgetânia Ferreira, professora da UFU, o propósito é pensar o golpe por diferentes olhares e áreas do conhecimento.
"Nós precisamos disputar a memória em relação a esse período recente da história brasileira. Em 1964 foi a mesma coisa, deram o golpe e chamaram de revolução. Depois a história conseguiu colocar a narrativa de todos que lutaram contra a ditadura", pontua a docente. O curso vai debater o que significa o golpe para a saúde, educação, cultura, inserção do Brasil no mercado internacional e outras questões. "É um espaço de fortalecimento", continua Jorgetânia.
Outras universidades do estado que anunciaram cursos para falar do assunto e do futuro da democracia são a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal de São João del-Rey (UFSJ) e Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). No Brasil, estão na lista a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Edição: Joana Tavares