Logo após a prisão do ex-presidente Lula, vazou um áudio nas redes sociais que causou um estrondo no jornalismo da TV Globo. A primeira reação de quem ouviu era que se tratava de um “fake news”, um áudio falso, devido ao inesperado conteúdo. Mas não era. O áudio havia sido enviado a um grupo de amigos do WhatsApp pelo jornalista Chico Pinheiro, apresentador de um dos mais famosos telejornais da Globo, o Bom Dia Brasil. Chico Pinheiro diz: “Realizaram o fetiche. O fetiche deles era Lula na cadeia. Não foi feito do jeito que eles queriam, mas o Lula foi”. “A direita está louca. Os coxinhas estão perdidos”, continuou.
Com a repercussão, o diretor-geral do jornalismo da Globo, Ali Kamel, encaminhou um e-mail aos jornalistas da empresa alertando a não se expressarem suas preferências políticas publicamente nas redes sociais, já que considera que isso contamina o trabalho jornalístico, que deve ser “isento” (o que será isso?). O recado foi bem direto!
Fico imaginando a situação de Chico Pinheiro... No entanto, como ele mesmo diz no áudio: “Eu estou aqui em meu posto difícil, mas tenho perspectiva histórica”.
Não é de hoje que desconfortos acontecem no jornalismo da Globo. Quem não se lembra de Ana Paula Padrão que, no auge da sua carreira, saiu do Jornal da Globo e foi para o SBT? E Fátima Bernardes e Patrícia Poeta, que deixaram a bancada do Jornal Nacional para ir para o entretenimento da emissora? Mais recentemente, também saíram Mariana Godoy, agora na Rede TV, e Evaristo Costa. Todas essas saídas, ealgumas outras, se deram com um ar de desconforto, com justificativas não muito convincentes... Tem coisa estranha nisso aí!
Sinceramente, me soa curioso Ali Kamel tentar evitar a “contaminação” e defender “isenção” do jornalismo Globo, ainda mais nesse episódio, motivado pela prisão do ex-presidente Lula. Só não vê quem quer a parcialidade, a posição muito clara da emissora no caso Lula. Aliás, não só nesse, como em tantos outros!
Parabéns, Chico Pinheiro! Que a nossa imprensa aprenda a ter “perspectiva histórica”!
*Felipe Marcelino é professor de filosofia.
Edição: Joana Tavares