Outro dia estava em um grande evento público e assisti a uma cena curiosa. Várias pessoas competiam por um pequeno número de tomadas para recarregarem seus celulares. A disputa por um espacinho no já confuso esquema de ‘Ts’ se tornou mais importante para elas do que o evento em si. E aí, uma que estava com o celular descarregado quase saiu no tapa com outra que tinha 93% de carga, pois ela só aceitava tirar o seu quando o mesmo atingisse 100%. “É pra não viciar a bateria”, disse.
Com certeza você já ouviu várias coisas do tipo sobre as baterias. “Tem que deixar descarregar totalmente”; “não pode deixar a noite toda na tomada”; “carregar toda hora vicia” etc. Qualquer aparelho eletrônico precisa de uma corrente elétrica para funcionar. Essa corrente nada mais é do que a movimentação de elétrons de um lugar para o outro.
Há várias formas de se criar uma corrente elétrica. No caso das pilhas e baterias, fazemos isso a partir da reação química entre substâncias presentes nelas, em que uma perde e a outra ganha elétrons.
Em uma pilha, a corrente elétrica se formará enquanto houver substâncias para reagir. Já em uma bateria (um conjunto de pilhas em série), há a reação química inversa toda vez que é ligada na tomada, o que a torna recarregável.
As baterias mais antigas usavam Níquel e Cádmio (NiCd). Muito poluentes, elas foram substituídas pelas de Níquel e Hidreto Metálico. As mais modernas, usadas em notebooks e celulares, usam íons de Lítio. Já nos automóveis usamos as pesadas baterias de Chumbo e Ácido.
A bateria de NiCd realmente podia apresentar o chamado “efeito memória”. Se você a descarregasse até, por exemplo, metade da carga, e voltasse a carregá-la (e fizesse isso por um longo período) aquela metade não usada podia acabar inutilizada. Porém, nas baterias de Lítio isso não ocorre. Ou seja, a bateria do seu celular não “vicia”. Você pode carregar e descarregá-lo no momento e pelo tempo que precisar.
“Ah, mas com o tempo minha bateria tá muito pior!” Sim. Toda bateria, com o tempo, perde capacidade. Elas possuem uma vida útil de aproximadamente dois anos. Após isso, sua capacidade diminui drasticamente.
Isso se deve a irregularidades que surgem naturalmente na estrutura molecular da bateria, algo até agora impossível de ser evitado. Para que sua bateria dure mais, o que os fabricantes orientam é evitar temperaturas muito baixas ou altas (entre 0 e 40°C pode), e não deixá-las sem uso por longos períodos descarregadas.
*Renan Santos é professor de biologia da rede estadual de Minas Gerais.
Edição: Joana Tavares