Vimos em nossa última coluna o que são os alimentos transgênicos. Mas, e aí? Eles causam algum problema? São heróis ou vilões?
Para responder a essa pergunta, precisamos olhar para os transgênicos que existem de fato e circulam no mercado. E, como vimos, hoje são basicamente de dois tipos e quatro culturas diferentes, todas sob controle e a serviço do agronegócio. E aí, a resposta é sim, eles causam muitos problemas!
O maior deles é o aumento da desigualdade social. Transgênicos são hoje peça chave do chamado “pacote tecnológico” que faz o agronegócio funcionar e a dependência econômica de nosso país se manter. As grandes multinacionais vendem sementes, venenos, máquinas e toda uma forma de se plantar e viver no campo. Assim, criam imensas monoculturas que destroem o ambiente, expulsam camponeses para as cidades e concentram a terra. Tudo para criar poucos tipos de produtos que serão, na imensa maioria, exportados. Uma lógica que visa ao lucro de poucos, e não à vida ou à sociedade.
Quando um transgênico é inserido no ambiente, torna-se impossível impedir que seus genes se espalhem. Assim, mesmo que um agricultor opte por não usar a tecnologia, dificilmente ele ficará livre da contaminação feita por seu vizinho. Ou seja, o agronegócio despeja toneladas de sementes transgênicas em nosso ambiente sem saber ao certo as consequências ecológicas disso.
Um efeito já comprovado é o aumento do uso de agrotóxicos, que causam diversas doenças em quem trabalha no campo e em quem consome os alimentos. O Brasil é hoje o recordista mundial no uso de agrotóxicos.
A uniformização genética de ambientes é outra consequência. Imensas áreas de terra são cobertas por plantas clones, todas geneticamente iguais. Essa perda de biodiversidade gera implicações graves, como a criação de pragas super-resistentes.
Há diversos cientistas no mundo que discordam da forma como a biotecnologia tem sido utilizada pelo mercado. Avaliam que é preciso mais cautela e mais estudos antes de liberar a utilização em larga escala de transgênicos. Da mesma forma, diversos países proíbem o uso dessa tecnologia na agricultura.
Transgênicos seguros e que interessam à sociedade podem ser produzidos e utilizados no futuro? Talvez. Hoje, devemos olhar com os dois pés atrás para eles. Mais urgente é o debate de como democratizar o uso da terra, como ampliar a produção de alimentos diversos e sadios e como frear a destruição da natureza. É nisso que devemos focar.
Um abraço e até a próxima!
*Renan Santos é professor de biologia da rede estadual de Minas Gerais.
Edição: Joana Tavares