Os anos 80 foram marcados por uma profunda crise econômica e pelo fim da ditadura militar no Brasil. Trinta anos depois, as semelhanças com a “década perdida” são muitas e é diante dessa realidade – e para dar conta dela – que a esquerda resgata sua origem e retoma a organização de base com a realização do Congresso do Povo Brasileiro.
Partindo de pequenos núcleos, o Congresso irá elaborar plataformas políticas que podem ser entendidas como um programa construído pelos trabalhadores. Mas tão ou mais importante que a plataforma política é o processo como o Congresso do Povo tem se constituído. Horizontal, incentiva a organização de núcleos independentes, seja no bairro, escola, igreja ou sindicato. Supra-partidário, agrega os mais diferentes matizes da esquerda e suas bandeiras de luta.
“Essa organização é uma demonstração de força social. Nos últimos anos abrimos mão de canais de diálogo com o povo, retomar isso é um dos objetivos do Congresso. Somente a construção a partir das bases é capaz de dar respostas aos problemas e nos fazer sair desse cerco em que estamos”, diz Bruno Diogo, do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), uma das mais de 100 entidades que compõem a Frente Brasil Popular.
Assim como na pós-ditadura o movimento popular se fortaleceu em torno da reconstrução da democracia, Bruno acredita que estamos vivemos um momento em “que nunca foi tão bom conversar com o povo’. “A memória social das conquistas provoca comparações, não tem jeito”. Para ele, a greve dos caminhoneiros é um exemplo disso e mostra “um campo aberto” para o trabalho de base. “A adesão popular que eles tiveram mostra que a política deste governo tem reflexos na vida e o povo está sentindo isso. Estamos num momento em que discutir política está muito fácil. A partir do preço do gás você debate soberania, privatizações, você discute o país que queremos”, avalia.
Frente Brasil Popular quer discutir projeto para o país
O Congresso do Povo nasceu durante a 2ª Conferência Nacional da Frente Brasil Popular (FBP), realizada em dezembro de 2017 na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema, no interior paulista. “Queremos aprovar um projeto unificado para comprometer todos os candidatos do campo democrático com uma plataforma mínima que tenha no centro o compromisso com a retomada das conquistas democráticas, com um Estado que garanta desenvolvimento, educação pública, ciência e tecnologia”, explicou Nalu Faria, da Marcha Mundial de Mulheres, na época, em entrevista à comunicação da FBP.
João Pedro Stedile, do Movimentos das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), elencou desafios para que, de fato, o Congresso signifique um retorno às bases. O primeiro deles é mobilizar os trabalhadores que moram nas periferias. “A esquerda não está chegando na periferia, só chega o PCC e os evangélicos”. O segundo desafio apontado por ele é a formação política. “Temos que aproveitar este período para formar militantes. Como é que se forma militante? Com a práxis, com a teoria e a prática. Este é o tempo de nós rejuvenescermos”, disse.
Milhares de encontros em todo o Brasil
Até agora, os dois desafios apontados por Stedile têm sido superados. Como antítese do Congresso Nacional encastelado e conservador, o Congresso do Povo se capilarizou em centenas de municípios do Brasil inteiro e intensificou o debate sobre o desmonte promovido pelo governo ilegítimo de Michel Temer e as bandeiras históricas da esquerda. Dividido em etapas, o Congresso tem encontros locais, municipais e estaduais até a etapa nacional. Até o momento, 23 estados do país realizam atividades do Congresso.
Para não interromper esse processo de organização, os Congressos municipais previstos para este mês irão acontecer até 15 de agosto, com exceção de Minas Gerais, estado com organização mais avançada e o único a realizar esta etapa ainda em junho. Já a etapa nacional será entre os meses de dezembro e março, já com um novo governo eleito. A mobilização daí em diante deve continuar nos núcleos da Frente Brasil Popular nos municípios, estados e comunidades para que o processo de debate político seja contínuo e permanente.
“A ideia é ampliar a capilaridade da iniciativa do Congresso do Povo, atingindo um número muito mais significativo de comunidades e municípios. Estamos com a meta de, até o final do ano, atingir todas as cidades com mais de 50 mil habitantes no Brasil, que são mais de 650 cidades”, informa Lucio Centeno, da secretaria da Frente Brasil Popular.
Lucio anuncia ainda que em breve será lançado um site sobre o Congresso do Povo e também um jornal especial sobre o assunto.
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Edição: Joana Tavares