As esquinas da Avenida Pedro II, na região noroeste de Belo Horizonte, são historicamente conhecidas por abrigarem travestis e transexuais. Mas quais são as histórias dessas mulheres? De onde elas vêm? Onde elas moram? São essas as questões levantadas no Projeto Translado. A proposta, que começou em setembro de 2017, é de resgatar a identidade, memória, representatividade e histórias dessas personagens.
A partir de encontros e entrevistas, o Translado constrói um registro histórico sobre quem são as travestis de Belo Horizonte. A partir das narrativas das personagens, diversos arquivos e documentos estão sendo elaborados. O mais recente foi o livro "Translado: narrativas trans da Av. Pedro II", lançado no último dia 17. Segundo Caio Paranhos, um dos organizadores do projeto, a ideia é que as narrativas sejam construídas pelas próprias travestis e transexuais.
A proposta é que sejam elas as protagonistas de todo o processo, já que a população trans até hoje ainda é invisibilizada pela sociedade e pelos meios de comunicação. “No geral quando se fala das pessoas trans na mídia hegemônica é de maneira estereotipada e preconceituosa. Então quando a gente coloca elas como protagonistas da própria história, estamos falando de representatividade. E é muito importante que os grupos minoritários, que são mal representados assumam cada vez mais essa posição de protagonismo”, explica.
Paloma Prado é uma das protagonistas do projeto. Para ela a iniciativa é fundamental para garantir a visibilidade da população e ajudar a combater o preconceito. “Eu me senti super representada pelo projeto. O processo ajudou a gente a se unir ainda mais. E também a mostrar que nós somos gente! Que as travestis não são bichos de sete cabeças, são pessoas como qualquer outra”, afirma.
No último dia 18, a Organização Mundial de Saúde retirou a transexualidade da Classificação Internacional de Doenças. A partir de agora a data passa a ser considerada como Dia Mundial de Combate à Transfobia. Decisão que está sendo comemorada.
“90% da população trans ainda está na prostituição. Eu vejo esse dado como um reflexo da sociedade em que a gente vive. Tenho muitas amigas travestis que foram expulsas de casa com 12,13 anos. Então como você consegue se estruturar perdendo seu vínculo social principal? Além disso, nós não temos políticas públicas suficientes para o acesso à escola, à saúde, ao mercado de trabalho. Isso são ações básicas para reverter esse quadro”, afima Babi Macedo, artista, travesti e integrante do projeto, lembrando que apesar da resolução ser um passo rumo à garantia dos direitos da população trans, ainda há muito para avançar.
Serviço
Livro Translado: narrativas trans da Av. Pedro II. Contato: projetotranslado.com ou instagram.com/projetotranslado.
Edição: Joana Tavares