“Nas atitudes você percebe que te tratam de forma diminuída”
Bruno Inácio, de 24 anos, já notava desde a infância que não era o que diziam que ele deveria ser. Negro, morador da extinta Vila Esporte Cruzeiro (região Oeste de Belo Horizonte) e filho mais velho de uma família com pai ausente, tinha receio de que a sua orientação sexual desapontasse sua mãe e seus três irmãos. Pela sociedade, a ele era delegado o papel de "homem da casa" – e homem da casa não tem vontade de chorar, não ama, não tem fraquezas, temores, inseguranças... Será mesmo?
No auge da adolescência, Bruno também temia que o fato de gostar de outros como ele prejudicasse a sua relação com os amigos.
"Eu moro numa favela, e a gente sabe como é crescer na favela... Somos muito perseguidos. Procurei apoio nas minhas amigas mulheres, porque as mulheres tendem a nos ouvir com mais facilidade. Foi o primeiro passo. Elas me ajudaram a me entender e a partir daí foi ficando mais fácil”, lembra.
O relacionamento com a mãe era de uma proximidade particular, digna de quem vive a vida sem o apoio da figura masculina, de quem vê em só um dos pais a possibilidade de cumplicidade. Ela, então, acompanhou o crescimento de Bruno e o desenvolvimento da sua sexualidade da forma mais saudável possível, com amor.
Bruno é jornalista e no momento cursa economia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Para ele, se impor nesses ambientes, como em todos os outros, é indispensável. "Quem é mulher entende muito quando a gente fala de homofobia, porque em certos pontos ela é muito parecida com o machismo. É aquela coisa, ninguém nunca vai falar que você é menor porque é mulher, mas, nas atitudes você percebe que te tratam de forma diminuída. É da mesma forma”.
Já no ambiente de trabalho, ele teve que fugir dos estereótipos destinados aos homossexuais. Teve que provar que não era apenas engraçado, apenas comunicativo, apenas descontraído e que tinha talento para várias tarefas além do entretenimento e do humor. Aprendeu a estar passos à frente: ser duas vezes mais competente, duas vezes melhor repórter, duas vezes mais dedicado. “Se existe outra forma de viver a homossexualidade, eu realmente não sei”, pontua.
"Estamos vivendo um contexto muito perigoso. De 2013 pra cá o Brasil mudou muito, e o mundo está numa onda conservadora enorme. As pessoas precisam de mais empatia, conseguir se colocar no lugar do outro. Todos nós somos preconceituosos porque aprendemos a ser assim em uma sociedade machista, racista, homofóbica. Precisamos entender isso e tentar, todos os dias, quebrar o preconceito”, sugere.
Edição: Joana Tavares