Os adeptos do movimento “Escola sem partido” vêm dando uma mostra, em todo o Brasil, do tipo de intervenção que pretendem realizar no fazer diário de um professor. Sou professora concursada da rede municipal de Belo Horizonte e leciono as disciplinas de Língua Portuguesa e Literatura.
Na última semana fui surpreendida com um documento (nos moldes daqueles textos-padrão disponibilizados pelos que defendem o “Escola sem partido”) no qual a mãe de um aluno solicitava a substituição de uma atividade avaliativa. Ela baseava sua solicitação nos livros de Deuteronômio, Mateus e na carta do apóstolo Paulo, além de citar alguns incisos do artigo 5 no que tange à liberdade de crença religiosa.
A atividade em questão consistia na transposição de um mito egípcio para um texto teatral e sua apresentação para a turma. Tal atividade está prevista no projeto de minha autoria denominado “Universo Egípcio”. O estudo de textos literários faz parte da política educacional do município.
Eu participo de formações mensais desse programa e sou a articuladora de leitura da escola onde estou lotada. A atitude dessa mãe, alegando motivos de cunho religioso, muito me assusta. Esse tipo de intervenção censura e desqualifica o trabalho proposto nas disciplinas.
Apresentar à coordenação um documento - mesmo sem valor legal - é uma forma sutil e pretensiosa de condicionar o trabalho docente a interpretações equivocadas e distorcidas de grupos fundamentalistas.
Denunciar práticas como essa no ambiente escolar é fundamental para ampliarmos o debate sobre os verdadeiros propósitos e o impacto do “Escola sem partido” no cotidiano do professor. Não podemos aceitar que grupos conservadores da extrema direita e sem nenhum preparo intelectual determinem o que se deve ensinar nas escolas.
*Paula Silva é professora da rede de educação de BH.
Edição: Joana Tavares