Entenda mais sobre o processo da concepção e o que significa ser uma pessoa intersexual
Nossas características físicas são determinadas em grande medida pelo DNA, uma substância presente nas células que se organiza em 46 estruturas, os cromossomos. Herdamos 23 cromossomos de nossos pais e 23 de nossas mães. Na formação dos gametas (espermatozoides e ovócitos), cada uma dessas células especializadas na reprodução recebe metade dos nossos cromossomos.
Dos 46 cromossomos, dois são os responsáveis pela definição do sexo. Se a pessoa tem um par XX, nasce biologicamente uma mulher; com um par XY, um homem. Ao formar um ovócito, a mulher sempre passará o cromossomo X. Já o homem forma metade de espermatozoides com o X e metade com o Y. Logo, quem determina em última instância o sexo do bebê é o pai. Se um espermatozoide X chegar primeiro ao ovócito, será formada uma menina; se um espermatozoide Y, um menino.
Isso é o que geralmente ocorre. Porém, alguns dos nossos gametas possuem um número anormal de cromossomos. Por exemplo, podemos ter um espermatozoide com 24 cromossomos (22 + XY). Nesse caso, ao fecundar um ovócito normal, um indivíduo com 47 cromossomos será formado. Ele terá 3 cromossomos sexuais (XXY). É a chamada Síndrome de Klinefelter, uma das possíveis síndromes relacionadas ao sexo. Estima-se que nasça em média um indivíduo com alguma síndrome sexual a cada 1500 partos. Isso se deve a um evento raro, mas absolutamente normal. São os chamados indivíduos intersexuais. Em uma população como a do Brasil, a estimativa é que existam cerca de 130 mil pessoas intersexuais. Elas geralmente possuem características intermediárias ou combinadas dos dois sexos.
E será que é possível, de alguma forma natural, escolher o sexo do bebê? Na década de 1960, o biólogo Landrum Shettles apresentou um método para aumentar a probabilidade de se ter um filho ou uma filha. O “método Shettles” se baseia na ideia que espermatozoides Y são mais velozes que os X, que por sua vez são mais resistentes. Daí, Shettles propôs algumas técnicas, relacionadas à posição e à data da relação sexual, que trariam um aumento na possibilidade de se ter um menino ou uma menina.
Porém, os estudos científicos posteriores feitos para testar o método Shettles até o momento demonstraram que ele não funciona. Inclusive, a suposta diferença entre espermatozoides X e Y proposta pelo biólogo foi desmentida. Ou seja, independente do que façamos, o acaso seguirá nos dando cerca de 50% de meninas e 50% de meninos!
Um abraço e até a próxima!
*Renan Santos é professor de biologia da rede estadual de Minas Gerais.
Edição: Joana Tavares