A população brasileira pode passar novamente pelo aumento da fome e da pobreza. Desde o início dos cortes de direitos e de investimentos sociais, pesquisadores acendem um alerta de que a desigualdade pode voltar a ser enorme no país. E isso tem consequências graves? Para os pesquisadores e alunos da Fundação João Pinheiro, além do Conselho Regional de Economia (Corecon), sim. Eles criam nessa semana o Observatório das Desigualdades de Minas Gerais, lançado em Belo Horizonte.
Os índices mostram um Brasil rico para 1% da população e, de outro lado, pobre para 50%. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) afirmam que em 2017 os mais ricos receberam em média R$ 27 mil por mês, enquanto metade da população viveu com R$ 754 mensais. Aponta ainda que nordestinos e nortistas são os que recebem a menor renda.
Na opinião do professor e coordenador do projeto, Bruno Lazzarotti Diniz, a desigualdade traz consequências graves para o país. Uma delas é a diminuição do nível de confiança nas instituições e entre os próprios cidadãos. O IBOPE mostra que o Brasil teve seu maior Índice de Confiança Social em 2010, quando atingiu 60 pontos. A última pesquisa, em 2015, mostrava que o índice desceu para 49 pontos.
“O outro é visto com desconfiança nas sociedades desiguais. O outro é visto antes como uma ameaça do que um aliado no enfrentamento dos problemas”, relaciona Bruno. Para ele, essa desconfiança tem a ver também com a segregação da vida: os “ricos” vão escolas particulares, enquanto os “pobres” vão para a escola pública. Uns vão para o trabalho de carro, os outros vão de ônibus. Assim, a empatia entre os cidadãos vai sendo enfraquecida.
Crescimento econômico e desigualdade
A pesquisa defende que o combate à desigualdade é o problema central do Brasil. “Existem duas maneiras de ter muitos pobres num país: você não ter renda, ou você ter uma renda mal distribuída”, explica o professor. “O Brasil não é um país pobre, é um país rico com muitos pobres”.
Bruno Lazzarotti discorda de que a retomada do crescimento do país resolverá problemas como pobreza, fome, falta de moradia e falta qualidade de vida. Explica que a riqueza produzida no país está indo parar nas mãos de poucas pessoas, e o crescimento do bolo não significa que será repartido com todos. “Essa ideia de que ou a economia cresce ou distribui renda é equivocada. Você pode fazer as duas coisas como vários países no mundo demonstram”.
Observatório mineiro
A ideia do Observatório das Desigualdades de Minas Gerais é acompanhar os índices sociais e econômicos no estado, produzindo boletins todos os meses. Cada relatório deve falar sobre uma desigualdade diferente, como a desigualdade de gênero, racial, territorial e educacional. Os programas governamentais também serão estudados.
Paulo Roberto Paixão, economista e presidente do Corecon, explica que o projeto pretende ser o olhar da sociedade sobre si mesma. “Vamos fazer uma análise da sociedade, para devolver a ela e dizer: olha como estamos”, instiga. Para ele, o observatório nasce em um momento ímpar, de eleições, e poderá contribuir para sinalizar quais políticas sociais serão as mais acertadas para o país.
Edição: Joana Tavares