Pense em duas paredes, uma feita de tijolos e outra de borracha. Qual é a mais estável?
Vejamos. Se você der um soco nelas provavelmente a de borracha sofrerá uma deformação, enquanto na de tijolo nada acontecerá, certo? Parece que a de tijolos é a mais estável então?
Mas, após o soco, a parede de borracha retorna a seu formato. Se agora, ao invés do soco, você usar uma marreta: a de tijolos provavelmente quebrará. Já a de borracha se deformará mais, mas voltará novamente a ser o que era. Hum, então é a de borracha a mais estável!
Esse exemplo nos ajuda a entender que a estabilidade de algo se relaciona tanto à sua resistência quanto à sua resiliência. A parede de tijolos é mais resistente, pois é mais difícil causar uma alteração em sua estrutura. Porém, a de borracha é a mais resiliente, pois consegue se recuperar mais fácil de uma perturbação. A estabilidade de algo está na combinação dessas duas características.
Pensemos agora em termos biológicos. A floresta Amazônica é um exemplo de um ecossistema muito resistente. Tente criar um incêndio nela e provavelmente você e seus fósforos terminarão encharcados. Mas, uma vez destruída, a Amazônia dificilmente se recupera. Possui baixa resiliência.
Já o Cerrado é um ecossistema em que queimadas ocorrem com frequência. Qualquer fósforo em época de seca pode causar um grande estrago. Porém, após pouco tempo ele dá a volta por cima e se recupera. Possui baixa resistência e alta resiliência.
O conceito de estabilidade está na base técnica da chamada Agroecologia (ou Agricultura Ecológica). Já ouviu falar dela? Ela promete a produção de alimentos sadios e diversos em quantidade suficiente para abastecer a humanidade, sem destruir a natureza e sem utilizar venenos. Será que isso é possível? É o que tentarei responder nesta e na próxima coluna.
Quanto mais complexo um ecossistema é, maior é a sua resistência e menor a sua resiliência. Para medir a complexidade de um ecossistema levamos em conta o número e a relação entre as espécies de seres que vivem nele. Um ecossistema formado por dez espécies é menos complexo do que um de mil. Ou seja, um ambiente com alta biodiversidade é mais resistente a perturbações do que um com baixa. Voltando ao nosso exemplo anterior, a Amazônia possui uma maior complexidade do que o Cerrado, por isso sua maior resistência.
O agronegócio cria ambientes agrícolas com baixa complexidade. A agroecologia cria ambientes agrícolas com alta complexidade. Vejamos em nosso próximo encontro as consequências de cada uma dessas escolhas.
Um abraço e até a próxima!
*Renan Santos é professor de biologia da rede estadual de Minas Gerais.
Edição: Joana Tavares