A última eleição democrática, de 2014, que elegeu Dilma Rousseff ocorreu em um momento de polarização da sociedade brasileira. Este cenário, aprofundou-se diariamente, com a ofensiva de setores anti-populares, reunidos em torno do judiciário, da grande mídia e da Polícia Federal para engendrar o golpe de agosto de 2016, ao destituir a presidenta eleita. Caminhamos até aqui assistindo diariamente a retirada de direitos.
A manifestação reprimida na porta do Congresso, enquanto os parlamentares brindavam com champanhe comemorando a Emenda Constitucional 95 que congelava por 20 anos investimentos em saúde e educação, que acabara de ser aprovada, nos diz que a divisão da nossa sociedade não acontece somente em período eleitoral. O assassinato de Marielle e Anderson no país que mais mata pessoas dedicadas a lutarem pelos direitos humanos, é um retrato de que estamos em pleno confronto de dois lados inconciliáveis. A polarização aprofunda e tem se elevado nesta eleição. E, não deve parar após outubro de 2018.
Quem imagina que a saúde mental do povo brasileiro está blindada ao cenário que vivemos, está profundamente enganado. As apostas nas saídas de violência, discursos de ódio e fascismo são bem conhecidas na nossa história. Acabam sendo proferidos por pessoas comuns, aquele vizinho ou colega de trabalho, que avista no extermínio de grupos a solução para os problemas do país.
Também são afetados aqueles que sonham e lutam por dias mais dignos e de menos desigualdade. São encurralados por saber que os dias serão mais árduos. Ao se colocar em movimento pode inclusive estar diante do silenciamento físico, como o de Marielle. Para manter-se em pé são necessários mais esforços do que antes porque o medo que paira é na verdade a tentativa de nos disciplinar para ficarmos calados. Estamos diante de tempos de trevas.
Nesse período, o isolamento é uma grande armadilha. Ninguém consegue resistir ou triunfar sozinho. Grupos que conseguem praticar a escuta e o acolhimento, além de compartilhamento de ideias, são fundamentais. Desde a roda de conversa entre amigos até mesmo as organizações políticas, serão os lugares amortecedores dos golpes na saúde mental. Engana-se também qualquer organização política, que acha que superará esse momento sozinho. As condições para a unidade estão dadas e só ela pode nos manter sãos.
* Nathalia Santos integra a Rede de Médicos Populares
Edição: Joana Tavares