Também fico com a “pureza da resposta das crianças”. Mas, como professor de biologia, a ciência que estuda a vida, não dá pra ficar só com a constatação de sua beleza. Responder à questão acima, por mais desafiador que seja, é tarefa da ciência.
O conceito de estabilidade, bastante importante para entendermos o funcionamento do universo, pode nos ajudar. As coisas assumem formas e estados variados. Alguns são tão instáveis que não duram mais que alguns milésimos de segundos. Ou seja, o que nossos sentidos captam, o que existe de fato ao nosso redor ao longo do tempo, são coisas em seus formatos mais estáveis. Uma constatação bastante óbvia, sim?
Por exemplo, organize dois baralhos na mesa de sua casa. Com um, junte as cartas em um monte, uma sobre a outra. Com o outro baralho, organize um castelinho daqueles difíceis de montar. Após um ano, qual das duas formas terá maior chance de ainda estar sobre a mesa? Se você respondeu que é o montinho já entendeu o que é a tal estabilidade!
Átomos se organizam em moléculas para adquirir estabilidade. Fazem isso o tempo todo. Há cerca de 3,8 bilhões de anos, nos oceanos de nossa Terra primitiva, alguns desses átomos foram expostos a condições ambientais que originaram estruturas moleculares bastante interessantes. Capazes de, ao se reorganizar, gerar cópias de si mesmos. Eram as moléculas de RNA e DNA. Eis aí o surgimento da vida.
Um ser vivo então é um conjunto organizado de átomos que adquire a incrível e única capacidade de se manter estável ao gerar cópias de si mesmos. A reprodução, essa capacidade de auto replicação, é o que melhor diferencia algo vivo de algo não vivo.
Toda a complexa estrutura de um organismo como o nosso existe para possibilitar que essa replicação ocorra da melhor forma possível. O sentido da vida é seguir existindo. Em um mundo em constante transformação, essas estruturas fazem de tudo para se manter por aqui, mesmo após 3,8 bilhões de anos. E, até o momento, foram bastante bem-sucedidas!
Nesse incessante processo, que até hoje só foi observado neste pequeno planetinha desta pequena galáxia, o nível de complexidade tendeu a aumentar. Muitos dos seres vivos atuais são estruturas supercomplexas que exigem um avançado nível de organização.
Só que no universo tudo tende à desordem. Assim, para manter tal organização por um breve período como o de nossas vidas, demanda-se muita energia. E a morte cedo ou tarde vem cobrar a fatura de tamanha façanha.
É ou não é bonita?
Um abraço e até a próxima!
*Renan Santos é professor de biologia da rede estadual de Minas Gerais.
Edição: Joana Tavares