Uma querida amiga parou de fumar nos últimos dias e me pediu para escrever sobre isso. O que a ciência sabe sobre esse vício, por que é tão difícil largá-lo e qual a melhor forma de fazer isso?
O tabaco é uma planta que produz a nicotina. Essa substância está presente em suas folhas e exerce um efeito inseticida. Devido à sua toxicidade, age como uma defesa contra predadores. Nós, humanos, espertamente pegamos essas folhas lotadas de um tóxico, a queimamos e inalamos essa fumaça (!). Além da nicotina, outros fatores contribuem para o efeito maléfico do cigarro. O calor, os gases produzidos na sua queima e diversas outras substâncias presentes possuem efeitos nocivos.
A nicotina possuiu um duplo efeito, aparentemente contraditório. É uma droga estimulante e calmante ao mesmo tempo. Ela cria no fumante um falso estado de vigília, de “ataque ou fuga”. Por exemplo, quando damos de cara com um cão latindo em nossa direção, nosso cérebro dispara essas substâncias para que o corpo esteja pronto para reagir. Isso leva ao aumento do batimento cardíaco, da circulação, dos níveis de estresse geral do corpo. Só que, como no fumante esse estado é falso, logo depois vem a sensação de alívio. É o efeito relaxante.
Com o tempo, é preciso cada vez mais nicotina para gerar o mesmo efeito no cérebro.
A abstinência de nicotina gera um efeito muito forte sobre o fumante. Causa um estado de aflição que o leva a querer outro cigarro. É, portanto, uma droga extremamente viciante e difícil de largar. Difícil, mas não impossível.
A melhor forma para se livrar do vício envolve alguns fatores: acompanhamento médico e psicológico; uso de medicamentos e da própria nicotina em doses baixas (chicletes e adesivos); mudança comportamental (evitar os “gatilhos”); apoio de amigos; novos hábitos que substituam o de fumar (beber água, comer algo ou fazer exercícios). Pesquisas também sugerem que é melhor parar de uma vez (marcar um dia) do que diminuir gradativamente o uso do cigarro.
Com essas orientações é possível se livrar do vício em dois a quatro meses. O que não significa que não haverá recaídas. Um dependente de nicotina deverá sempre se esforçar para se manter longe da droga.
Um abraço e até a próxima!
Renan Santos é professor de biologia da rede estadual de Minas Gerais.
Edição: Joana Tavares