No início deste mês de outubro, 300 famílias se agregaram a uma ocupação já existente, no distrito industrial do Jatobá, região do Barreiro, em Belo Horizonte (MG). Com essa união floresceu a comunidade Professor Fábio Alves, localizada na Rua José Tavares Filho, Marilândia, na divisa da capital com a cidade de Ibirité.
A comunidade leva o nome de Fábio Alves como forma de expressar a disposição das famílias de lutar pelo direito básico de ter onde morar. Fábio, falecido em 2013, era professor da PUC e advogado envolvido e comprometido com as causas sociais, em especial com a luta sofrida do povo pobre e trabalhador de Belo Horizonte.
O terreno abandonado, sem cuidado e sem dono, ficou largado com matagal e entulho por muito tempo. Entretanto, no dia 6 de outubro a realidade mudou. Aproximadamente 300 famílias se organizaram e estão construindo com as próprias mãos uma comunidade. Com muitas crianças e idosos no local, os ocupantes são todos de baixa renda, vivem com salário mínimo. A ampla maioria é formada por trabalhadores e trabalhadoras que estão, neste momento, sem trabalho formal, mas sempre na luta por uma vida digna.
De acordo com a nota divulgada na página da Ocupação, “parte dessas famílias foram vítimas de um despejo cruel, no início de 2018, de um terreno da Prefeitura de Belo Horizonte que hoje permanece abandonado, sem cumprir sua função social. Reorganizada e ainda mais forte retomam a luta pela moradia no momento em que viver se torna cada vez mais difícil: comida cara, ausência e precariedade dos serviços básicos”.
Se perguntadas se queriam estar nessa situação, as pessoas provavelmente responderiam que não! Contudo, ocupar é a última saída, pela impossibilidade de continuarem a pagar o aluguel e pela ineficiência dos programas estatais de moradias populares. Garantir o direito básico e constitucional à moradia é dever do Estado, mas se este falha para milhões de brasileiros, é no mínimo seu dever reconhecer e apoiar as comunidades que estão se autoconstruindo. É melhor para todo mundo espaços com moradias populares do que abandonados e acumulando lixo e dengue.
Apesar de violências como a do último dia 9 – quando a PM entrou na ocupação ameaçando as famílias de um despejo ilegal – as famílias seguem lutando por seu direito de viver dignamente.
Compreendemos, portanto, que essas ações de repressão aos movimentos de luta por moradia não são mera coincidência, mas parte de uma crescente política de violência contra os movimentos populares e o povo pobre da cidade.
Por isso, exige-se, que a Polícia Militar de Minas Gerais cumpra o seu dever de proteger o povo e pare com a perseguição aos pobres, e que o governador de Minas Gerais Fernando Pimentel impeça a polícia de realizar o massacre que a mesma está planejando.
Ainda em nota, a Comunidade Fábio Alves lança um chamado para todos os mineiros. “Contamos com a solidariedade das organizações sindicais e sociais e dos lutadores da cidade, visitem a ocupação, tragam alimentos, água e outras doações possíveis. E, o mais importante, contamos com a apoio de todos para evitar que a força policial seja utilizada contra trabalhadores que não têm onde morar”, diz o texto.
*Lacerda Santos é membro do Movimento Luta Popular/MG e Frederico Lopes é professor e jardineiro.
Edição: Joana Tavares