Uma coisa legal da época das eleições é que quase todo mundo tem contato com a ciência, até sem perceber. Por meio das pesquisas eleitorais, vários conceitos científicos são apresentados.
O Brasil tem pouco mais de 147 milhões de eleitores. Só saberemos como eles votarão no momento em que as urnas forem abertas, certo? Ou seja, numa eleição fazemos um esforço gigante pra colocar cada eleitor em frente a uma urna para que ele diga sua opinião.
Só que, na maioria das vezes, não conseguimos ver o todo, porque o mundo é complexo demais. A saída é olhar para uma parte pequena da realidade e tentar descobrir algo sobre ela.
Ao fazer uma pesquisa de intenção de votos, queremos descobrir qual é o candidato preferido das pessoas sem precisar perguntar para todas. Para isso, perguntamos só para uma amostra, um grupo pequeno, de 2 ou 3 mil eleitores.
Temos os candidatos B e H. Se o meu grupo de 2 mil pessoas fosse formado por chineses que nunca ouviram falar nada sobre eles, e eu pedisse que eles escolhessem um dos dois, o acaso me daria um resultado próximo a 50% pra cada. É a mesma lógica de jogarmos uma moeda 100 vezes e esperarmos 50 caras e 50 coroas.
Como minha amostra não é formada por chineses, e sim por brasileiros que têm preferências, meu resultado será outro. Vamos supor que B teve a preferência de 800 pessoas e H de 1200. Só que tal resultado também pode ser fruto do acaso. Nada impede que eu jogue uma moeda 100 vezes e saia, sem nenhum motivo, 40 coroas e 60 caras.
Quanto mais eu repetir meu teste e quanto maior for minha amostra, mais difícil será que um resultado que fuja do esperado seja fruto do acaso. Para afirmar que esse fator é real e serve para o todo, tenho então que realizar um teste estatístico que mostre, com algum nível de certeza, que o resultado que obtive não é fruto do acaso.
O nível de certeza nunca é de 100%. Geralmente, por escolha dos cientistas, usa-se uma significância de 95%. Ou seja, há uma chance de 5% de eu estar errado e meu resultado não refletir a realidade. Daí que a ciência nunca cria verdades absolutas. Sempre há chance de estarmos errados.
Um abraço e até a próxima!
Renan Santos é professor de biologia da rede estadual de Minas Gerais.
Edição: Joana Tavares