Três anos após o rompimento da Barragem de Fundão, no município de Mariana (MG), vítimas do crime da Samarco (Vale/BHP Billiton) seguem sem reparação. Para protestar contra essa situação, atos serão realizados no dia 5 de novembro (próxima segunda-feira) data em que a barragem rompeu. Em Mariana, às 17h, haverá concentração na praça Minas Gerais, com lançamento de uma carta de reivindicações. Em Londres, na Inglaterra, uma comitiva de atingidos e parceiros comparecerá a uma das sedes da BHP, uma das acionistas da Samarco.
Durante dez dias, o Movimento dos Atingidos por Barragens realiza ações de denúncia ao longo da Bacia do Rio Doce. Os protestos começam em Mariana e passam por outras 13 cidades de Minas Gerais e Espírito Santo, como Ipatinga, Naque, Cachoeira Escura, Governador Valadares, Colatina, Resplendor, Itueta e Regência. Nesses lugares, haverá feiras de saúde, caminhadas, atos culturais e celebrações religiosas.
“Fomos prejudicados, fomos massacrados. Esse crime tocou a gente da nossa realidade, cortou a nossa identidade, apagou nosso futuro e abortou todos os nossos sonhos”, declarou Luzia Queiroz, representante de Paracatu de Baixo, em coletiva de imprensa, na manhã desta quinta-feira (1º). A entrevista, realizada na sede do Sindicatos dos Jornalistas de Minas Gerais, em BH, contou com a presença de moradores de Bento Rodrigues e Paracatu e técnicos da Cáritas Regional Minas Gerais, entidade que presta apoio às famílias na região.
Danos sem reparação
O maior crime ambiental da história do país aconteceu há três anos. A barragem de rejeitos da mineradora Samarco rompeu às 16h20 do dia 5 de novembro de 2015, liberando cerca de 60 bilhões de litros de água e rejeitos de mineração. A lama causou a morte de 19 pessoas (moradores e funcionários da empresa), destruiu distritos do município de Mariana, acabou com propriedades rurais ao longo de quilômetros, matou a Bacia do Rio Doce, causando prejuízos a milhares de pessoas em Minas e Espírito Santo, e contaminou o litoral capixaba.
“A gente falava o tempo todo que Bento corria risco, a gente sabia o que ia acontecer e a empresa falava: ‘não tem risco, é seguro’. Muitos engenheiros falaram que morariam até debaixo da barragem, até chegar o dia em que acabaram com nossa comunidade. Aquilo foi um crime anunciado! Hoje tem sirene para todos os lados. Mas, quando vivíamos lá, não tinha sirene, não tinha nem um treinamento de fuga”, conta Antônio da Lua, morador de Bento Rodrigues, primeiro local atingido pela lama. O povoado, que surgiu no século XVIII, ficou inabitável após o crime.
Luzia Ferreira, moradora de Paracatu de Baixo, lembra que os prejuízos não foram apenas econômicos. Pessoas perderam vínculos com familiares e amigos, ao terem que ir morar na cidade, e enfrentam dificuldades para se adaptar. Muitos adoecem, têm problemas como síndrome do pânico, depressão, tentativas de suicídio e até perdas de memória. “As crianças estão desestimuladas, os adultos ociosos. Na roça, todos sabiam o que fazer. Levantava cedo, dormia cedo. Comia-se muito bem, vestia-se bem. No nosso território, ao sair, guardávamos a chave embaixo do tapete só para a criação não entrar. Aqui, muita gente teve que aprender a cozinhar no fogão a gás, usar celular”, relata.
Luzia quer saber se esse modo de vida poderá ser recuperado quando a comunidade for reassentada. “Está vindo um reassentamento e ele vai vir muito bonito, maravilhoso. Mas nós não temos a nossa cachoeira, não temos as nossas águas, não temos a nossa liberdade”, questiona.
Edição: Joana Tavares