Dizem que comer manga com leite faz mal. Quero realizar um experimento científico para ver se isso é verdade. Convido 100 pessoas para me ajudarem. 50 delas comem uma manga com um copo de leite e 50 não. Espero uma hora e avalio quantas delas passam mal.
As 50 pessoas que não comeram nada servem como um parâmetro para o meu teste. Só posso afirmar que essa combinação faz mal se o número de pessoas enjoadas no primeiro grupo for estatisticamente superior ao do segundo grupo. Eis um esquema clássico de experimento científico.
Sabemos hoje que não há mal nenhum em juntar manga e leite. Ou seja, o provável resultado do experimento acima seria que nenhuma das 100 pessoas ficaria enjoada. Porém, imagine que algumas pessoas que comeram a manga com leite passem mal. Elas podem estar sendo vítimas do efeito placebo.
Esse efeito já é bastante estudado pela ciência. Acontece quando algo teoricamente sem efeito gera uma resposta real sobre um organismo. No exemplo anterior, a crença popular de que comer manga com leite faz mal pode ser suficiente para desencadear o enjoo.
Respostas reais
O efeito placebo gera respostas neurológicas, fisiológicas e psicológicas reais, por motivos irreais. Já foi observado de variadas formas em humanos e em outros animais. Em um experimento, ratinhos com dor foram tratados com injeções de analgésicos, que aliviavam suas dores. Após um tempo de tratamento, os pesquisadores eliminaram o analgésico e passaram a injetar uma substância sem efeito nos ratinhos. Mesmo assim, a dor deles diminuiu.
Hoje, há todo um esforço dos cientistas em buscar métodos para eliminar esse efeito dos testes, uma vez que ele pode gerar falsos resultados. Também há situações em que se pode explorar o efeito placebo para o bem. Por exemplo, é possível obter melhoras efetivas em pacientes pela administração de medicamentos e até de cirurgias placebo.
Testes já demonstraram que saber que um procedimento é placebo não elimina o efeito. Ou seja, não é necessário que ele seja inconscientemente produzido, o que parece apontar que suas causas são muito mais fisiológicas do que psicológicas.
Contudo, o placebo gera um resultado efetivo um pouco superior ao nulo, até um certo limite. Ou seja, não é capaz de tudo. É bem efetivo, por exemplo, para tratar dores e ansiedade, mas não será útil para tratamentos mais complexos, como a eliminação de um tumor ou para fazer um paralítico voltar a andar.
O que você acha disso tudo?
Um abraço e até a próxima!
Renan Santos é professor de biologia da rede estadual de Minas Gerais.
Edição: Joana Tavares