No lugar do imperador, assume um marechal monarquista, que só fica nove meses no poder. O povo, mais uma vez, assistiu sem fazer parte da transição do Brasil colônia para uma nação com poderes constituídos. Há muitas interpretações entre os estudiosos do período sobre o sentido do 15 de novembro de 1889, mas quase todos parecem concordar que se tratou de um movimento do Exército, com o apoio das elites intelectuais, igrejas e latifundiários, sem a participação da maioria esmagadora da população. Muitos republicanos da época defendiam a democracia, mas a ilusão de que ela seria possível sem o povo parece ter durado tempo demais...
Conheça alguns personagens e eventos que levaram à deposição de Dom Pedro II e a construção dos instrumentos de representação mais ou menos como temos até hoje.
Alguns personagens da trama:
Deodoro da Fonseca
Apesar de monarquista, foi escolhido para liderar a proclamação e foi o primeiro presidente da República, com a Constituição de 1891. Nesse mesmo ano, foram criados o Senado Federal e a Câmara dos Deputados, com sede no Rio de Janeiro. Em meio a uma profunda crise, Deodoro renunciou ao cargo nove meses depois. O vice, Floriano Peixoto, também marechal assumiu o cargo e ficou até 1894, quando foi substituído por Prudente de Morais, o primeiro presidente civil do país, e que inaugurou o rodízio dos presidentes oligarcas.
Negros e negras escravizados
Pelo menos um quarto da população brasileira da época era de pessoas negras escravizadas violentamente. Parte dos republicanos defendia a abolição, enquanto outros – principalmente fazendeiros – não queriam a libertação dos trabalhadores. Um ano antes da proclamação da República, foi assinada a lei Áurea, que acabou formalmente com a escravidão. No entanto, não foram oferecidas oportunidades de moradia, trabalho e renda para essas pessoas, que continuaram à margem dos direitos sociais e políticos do país.
Dom Pedro II
Filho de Dom Pedro I, ele já nasceu no Brasil e assumiu o trono aos cinco anos, quando seu pai abdicou do cargo. Depois do período regencial, tornou-se imperador com apenas 15 anos. Uma de suas filhas, a Princesa Isabel, foi responsável por assinar as duas leias abolicionistas: a do Ventre Livre e a Lei Áurea. Com a proclamação da República, Dom Pedro vai para o exílio na Europa. Ele morre de pneumonia, em Paris, dois anos depois.
Guerra do Paraguai
Na segunda metade do século XIX, o Brasil enfrentava ainda os impactos da Guerra do Paraguai que foi determinante para a crise da monarquia. De 1864 a 1870, o Brasil, sob o comando de Dom Pedro II, fez um acordo com a Argentina e o Uruguai (chamado de Tríplice Aliança) para entrar em guerra contra o vizinho Paraguai. O Paraguai tinha uma política autônoma frente a grandes potências, como a Inglaterra, e era um dos países mais desenvolvidos e menos desiguais da América Latina. As forças paraguaias enfrentaram as tropas dos três países em uma longa resistência. Enquanto isso, muitos negros escravizados eram obrigados a se alistar no Exército brasileiro. Segundo o livro “Veias abertas da América Latina”, de Eduardo Galeano, a guerra da Tríplice Aliança exterminou 83% da população do Paraguai.
O Brasil teve que enfrentar grande número de mortes (algumas estimativas chegam a 50 mil óbitos) e um substancial aumento de sua dívida externa com a Inglaterra. A guerra também levou o Exército a ser uma força nova na política nacional.
Monarquia e Império brasileiro
Uma monarquia é um regime em que uma pessoa se mantém no poder até sua morte ou até que abdique do cargo. Geralmente, é um poder hereditário, ou seja, quem assume em seu lugar é o filho ou filha mais velha. O Brasil viveu sob a forma de Império de 1808 – quando a família real portuguesa se mudou para o país - a 1889, com a proclamação da República. Mesmo com a independência de Portugal em 1822, quem assumiu o poder foi o herdeiro do rei, seu filho mais velho, Dom Pedro I. Em seu lugar, ficou seu filho Dom Pedro II. Além de concentrar poderes e riquezas, a monarquia dependia do trabalho escravo e da exploração da população para se manter.
Os herdeiros da família real brasileira, os Orleans de Bragança, criticam até hoje a transição para a República e defendem a volta da monarquia. Luiz Phillippe de Orléans e Bragança chegou a ser cotado para vice na chapa de Jair Bolsonaro à presidência. Ele foi eleito deputado federal pelo mesmo partido do presidente (PSL) e fez carreira em empresas do mercado financeiro.
Em 1993, 67 milhões de brasileiros votaram em um plebiscito nacional que consultou a população sobre qual regime político preferiam: monarquia, parlamentarismo ou presidencialismo. Mais da metade optou pelo presidencialismo, ainda em vigor no país.
Edição: Joana Tavares