Nas Minas Gerais, existiu o Quilombo Campo Grande, um dos maiores agrupamentos quilombolas do Brasil, nove vezes maior que o de Palmares. Sua extensão ia do Triângulo Mineiro, passando pelo Sul e Sudoeste de Minas, até as áreas do nordeste do estado de São Paulo. Foi construído por negros escravizados, negros alforriados que sofriam com a capitação de impostos, e brancos pobres. Estudos falam de uma população de mais de 20 mil habitantes, no século XIX.
O quilombo resistiu por anos a ataques da Coroa e até hoje é inspiração de luta para o povo mineiro. História que inspira uma ocupação do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no sul de Minas Gerais, em Campo do Meio. São 450 famílias, que vivem há mais de 20 anos nas terras da usina falida de Ariadinópolis, que produzia açúcar e álcool.
Antiga usina deve R$ 300 milhões em direitos trabalhistas
Atualmente a área possui vasta produção de alimentos e são colhidas 510 toneladas de café por ano. As famílias produzem, sem o uso de agrotóxicos, hortaliças, cereais, frutas, fitoterápicos, leite e derivados, além de produtos processados como doces e geleias. Tudo isso de forma agroecológica ou em transição para essa modalidade. Esse processo de coletivização da terra, trabalho e produção pode ser destruído por uma decisão judicial do juiz Walter Zwicker Esbaille Júnior, determinando que os sem-terra têm até o dia 14 para desocupar o local, autorizando a repressão da Polícia Militar.
Essa grande ocupação já sofreu vários processos de repressão e os próprios latifundiários da região já organizaram ataques contra as famílias. O juiz, portanto, está sendo aliado dos empresários, escolhendo o lado do lucro, o lado dos agrotóxicos, o lado da exclusão. Escolhe proteger uma empresa que deve mais de R$ 300 milhões em direitos trabalhistas para destruir a vida de tantas famílias que produzem alimento saudável, têm autonomia financeira e que movimentam a economia da região, gerando trabalho inclusive fora do acampamento.
A história se repete como farsa: há mais de 250 anos, nas mesmas terras, resistia um povo explorado e injustiçado que construiu um espaço coletivo para viver, trabalhar com dignidade e sofreu com a repressão da Coroa e dos fazendeiros. Novamente os mesmos poderosos de ontem querem negar a sua função social da terra, seu papel de produzir, gerar trabalho e renda, para manter privilégios e direitos para poucos, nas costas do povo trabalhador. A reforma agrária faz bem à sociedade, que deve construir a resistência junto ao povo agricultor de Minas.
Edição: Elis Almeira