O presidente eleito, Jair Bolsonaro afirmou, durante campanha eleitoral, que as relações do Brasil com outros países não teriam “viés ideológico”. Antes mesmo de assumir, estremeceu a relação com a China, o maior parceiro comercial do Brasil; causou ira nos países árabes, os maiores compradores da carne de frango brasileira, por anunciar mudança da embaixada do Brasil de Tel Aviv para o lado israelense de Jerusalém; se distanciou dos países do Mercosul, inclusive a Argentina, segundo principal destino das exportações nacionais; e forçou a ruptura com Cuba, que disponibilizava 8.553 médicos nas regiões mais carentes do Brasil.
No caso da presença dos médicos cubanos no Brasil, através do Programa Mais Médicos (PMM), importante lembrar que, por cinco anos, 20 mil médicos atenderam a 113,4 milhões de brasileiros em mais de 3.600 municípios. Mais de 700 cidades tiveram médico pela primeira vez na sua história graças ao programa. Somente em Minas Gerais, com o fim da cooperação com Cuba, 597 médicos deixarão o estado e 286 municípios perderão profissionais, sendo que 33% desses ficarão sem nenhum médico em seus Centros de Saúde.
286 municípios de Minas Gerais perderão médicos
Segundo pesquisa feita pela UFMG, 95% das pessoas atendidas avaliaram como “ótimo” ou “bom” o trabalho desses profissionais. Eram médicos formados para atuar em Postos de Saúde, capacitados na especialidade equivalente à Medicina de Família de Comunidade no Brasil. E sua principal herança para o Brasil será o exemplo: as favelas, as áreas indígenas e quilombolas, o sertão e a Amazônia podem ter médicos. E a medicina pode estar ao alcance de todos.
O mais provável é que os municípios mais distantes dos grandes centros, as áreas indígenas e quilombolas e até mesmo as vilas e favelas das grandes cidades tenham dificuldades de encontrar médicos para preencher as vagas dos médicos cubanos. E, os que entrarem no programa, provavelmente não permanecerão por muito tempo, considerando que 30% dos médicos brasileiros saem do Programa Mais Médicos antes do primeiro ano de trabalho.
Na prática, Bolsonaro parece mais preocupado com sua ideologia do que com os interesses nacionais. Que o povo brasileiro esteja atento e organizado para que os devaneios do futuro presidente não piorem a vida dos mais pobres e dos trabalhadores.
Edição: Joana Tavares