Duas grandes livrarias do país estão em maus lençóis. Em outubro e novembro, a livraria Saraiva e a livraria Cultura pediram recuperação judicial. A Saraiva declara uma dívida de R$ 675 milhões, enquanto a Cultura deve R$ 285 milhões. Mas qual o motivo dessas falências?
Pesquisas do Sindicato Nacional dos Editores de Livros mostram que os livros digitais estão ganhando espaço. Em 2016, último levantamento, foram 2,7 milhões de exemplares vendidos e um faturamento de R$ 34 milhões. Porém, no mesmo ano as vendas de livros impressos foram de 382 milhões de exemplares e faturamento de R$ 5,4 bilhões. A venda de livros físicos foi 150 vezes maior.
Livrarias de best-sellers
Outra análise, do editor Haroldo Ceravolo, é de que as livrarias não estão perdendo leitores para o livro digital, mas para suas próprias escolhas. Para ele, as grandes livrarias passaram a se basear em um tripé de crescimento: a abertura de muitas lojas, a imposição de condições mais duras para os fornecedores e a venda de espaços nas lojas – os espaços nas vitrines e nas prateleiras passaram a ser vendidos às editoras ou escritores.
Em 2017, o Brasil publicou cerca de 50 mil títulos diferentes. Enquanto a livraria Saraiva nasceu para vender pouca variedade de livros - os considerados best-sellers -, a Cultura era especializada nos outros “49 mil títulos”, diz Haroldo. Porém, começou a seguir a mesma lógica. “Uma migração muito malsucedida”, pontua o editor.
“Eles perderam os velhos leitores e não ganharam os novos. Os livros que mais vendem representam uma fatia muito pequena do mercado. Você vende para mais gente, mas são pessoas que consomem poucos livros.”, analisa. Ele critica também os temas. Enquanto o feminismo, o tema LGBT e as questões da negritude ganharam destaque no país, as grandes livrarias investiram em vender livros muitas vezes contrários a esses valores.
O que fazer?
Editor da Alameda Editorial, Haroldo vê oportunidades para as pequenas editoras. Elas podem suprir o vazio deixado pelas grandes livrarias. “Essa tinha que ser a preocupação dos governos. Abertura de livrarias nas cidades menores, nos bairros, nas periferias das cidades”, defende.
Belo Horizonte
Relicário Edições, Páginas Editora, Editora Moinhos, Mazza Edições, Editora Letramento, AZica, Alecrim, Anime Livros, Cérbero Edições, Crisálida, Crivo Editorial, Dublinense Editora, Entrelinha Papelaria, Funil, KZA 1, Editora Letramento, Lote 42, Preta Sebastiana e Editora Venas Abiertas são algumas das editoras que existem e resistem em Belo Horizonte e têm acervo diferente do comercial.
Livro, um ótimo presente :)
Brasil de Fato traz três sugestões de livros que acabaram de ser lançados. Uma ótima dica pra você conhecer e presentear neste fim de ano:
Outra Educação é Possível: Feminismo, Antirracismo e Inclusão Em Sala De Aula
A escritora Luana Tolentino conta suas experiências em sala de aula, de como educar (e aprender) respeitando a diversidade e a identidade. A valorização da autoestima é outro ponto muito buscado pela autora/professora. A leitura e os exemplos de novos métodos de educação são contagiantes. Editora Mazza, R$ 35. Pode ser adquirido em: www.mazzaedicoes.com.br.
Figuras de Liberdade Memórias de um Artista Viajante
Histórias que misturam a realidade e a fantasia, com um toque de interior mineiro. Fernando Siqueira acaba de lançar o seu livro com ilustrações que tornam os personagens ainda mais reais. O Figuras de Liberdade chama a atenção pelas belíssimas imagens. Editora Crivo, R$ 60. Pode ser adquirido em: www.crivoeditorial.com.br.
Desenhos da Resistência
A autora Marlene Crespo desenha, em 176 páginas, a luta popular durante a ditadura militar no Brasil. São histórias de mulheres, índios, estudantes, operários e moradores de periferia. Ela própria viveu os anos da ditadura. Editora Expressão Popular, R$ 25. Pode ser adquirido em: www.expressaopopular.com.br.
Edição: Joana Tavares